Saúde
Alimentação sem glúten nem sempre é sinônimo de saúde
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Maio é o mês da conscientização da doença celíaca e uma boa oportunidade para informar um pouco mais sobre o glúten, uma proteína polêmica e que muitas vezes causa dúvidas em relação à alimentação. A doença celíaca não é uma alergia ao glúten, como muitas pessoas costumam confundir. É um distúrbio autoimune em que a ingestão de glúten (uma proteína encontrada no trigo, centeio e cevada) causa danos ao intestino. Estima-se que uma em cada 100 pessoas sejam celíacas em todo o mundo, variando esse índice em diferentes populações. Segundo estudos, a maioria não é diagnosticada.
Como esse é um distúrbio autoimune, o diagnóstico garantirá oportunidades de acesso a testes e tratamentos para ajudar a prevenir possíveis efeitos de longo prazo em relação a doenças como diabetes tipo 1, esclerose múltipla, epilepsia, câncer intestinal, entre outros. Aqueles com doença celíaca não estão em risco de anafilaxia. Embora não haja cura, a manutenção de uma dieta isenta de glúten é fundamental para evitar a desnutrição e outras complicações da doença. A desnutrição, anemia, fadiga, depressão, ansiedade, artrite, convulsões e enxaquecas são apenas algumas das formas pelas quais a doença celíaca pode se manifestar em adultos.
Apesar da retirada do glúten da alimentação ser essencial para quem desenvolve a doença celíaca, nem sempre uma alimentação livre de glúten é sinônimo de alimentação saudável ou de emagrecimento. Depois de muitos anos restritos às lojas de alimentos saudáveis, os alimentos sem glúten aparecem em todos os lugares. Os corredores de supermercado estão repletos de produtos sem glúten e muitos restaurantes oferecem também opções. Para os celíacos, essa ampla gama de produtos e opções é interessante, mas muitos desses alimentos são altamente processados e muitas vezes cheios de açúcares, o que acaba não sendo uma vantagem para quem quer ter uma alimentação balanceada e saudável.
Evitar o glúten significa mais do que abrir mão de pães, cereais, massas, pizzas e cervejas tradicionais. O glúten também se esconde em muitos outros produtos, incluindo vegetais congelados em molhos, molho de soja, alguns alimentos feitos com “aromas naturais”, suplementos vitamínicos e minerais, alguns medicamentos e até pasta de dente. Isso faz com que seguir uma dieta sem glúten seja extremamente desafiadora.
Mesmo sem diagnóstico de doença celíaca, algumas pessoas relatam que se sentem melhores após a retirada do glúten da dieta. De acordo com um relatório publicado no periódico americano JAMA, as seguintes razões podem ser o motivo pelo qual um número crescente de pessoas está seguindo uma dieta sem glúten:
– Percepção pública de que uma dieta isenta de glúten é mais saudável e pode melhorar sintomas gastrointestinais inespecíficos.
– Produtos sem glúten estão agora mais amplamente disponíveis.
– Um número crescente de pessoas está sendo diagnosticados com uma sensibilidade ao glúten, ao invés da doença celíaca, e eles notaram que sua saúde gastrointestinal melhorou depois de cortarem o glúten.
Uma pesquisa publicada em 2017 na Revista de Especialistas de Gastroenterologia e Hepatologia sugeriu que o glúten pode causar sintomas intestinais, mesmo em pessoas sem doença celíaca. Esses incluem:
– Função alterada do intestino.
– Síndrome do intestino irritável.
– Alterações no microbioma intestinal.
Mas é preciso ter cuidado quando se opta por uma dieta livre de glúten. O ideal é que um profissional acompanhe sempre essa transição. Seguir uma dieta sem glúten na ausência de doença celíaca pode ser prejudicial à saúde. Determinadas deficiências nutricionais podem ocorrer quando se faz algum tipo de restrição alimentar. Muitos produtos sem glúten têm pouca fibra. Evitar grãos integrais pode levar à falta de fibra. A dieta precisará de um planejamento cuidadoso.
Um outro estudo publicado em 2017 concluiu que uma pessoa que segue uma dieta sem glúten sem ter doença celíaca tem um risco maior de doença cardiovascular à longo prazo. Isso porque ela perderá os benefícios saudáveis para o coração dos grãos integrais. Além disso, muitos produtos sem glúten processados podem ser mais ricos em gordura, açúcar e calorias e mais baixos em fibras do que seus equivalentes de glúten. Isso pode levar ao ganho de peso.
Assim, o melhor é saber primeiro se há um risco genético para desenvolvimento da doença celíaca e, a partir daí, com um acompanhamento profissional, delinear a melhor dieta de acordo com as necessidades específicas e evitar sempre os alimentos muito processados. Uma dieta rica em vegetais e frutas, com gorduras e proteínas de boa qualidade é sempre a melhor opção para todos.