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Agricultura climate-smart atrai interesse de investidores estrangeiros


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Os números ainda são tímidos, mas não param de crescer: a agricultura climate-smart, ou seja, que está alinhada com os desafios das mudanças climáticas, atrai cada vez mais investidores de impacto estrangeiros.  Essa é a principal conclusão do estudo sobre Investimento de Impacto em Agricultura Climate Smart, coordenado pela Alimi Impact Ventures, que mapeou os agentes e instrumentos de financiamento e identificou vários cases de sucesso no Brasil.  O estudo contou com o apoio da Fundação Rabobank como parte do programa Kickstart Food desenvolvido em parceria com a UN Enrvironment, pelo qual pretendem alocar US$ 1 bilhão em agricultura climate-smart em diversos países, entre eles Brasil.

O estudo focou em práticas agrícolas que favorecem o clima, desconsiderando investimentos em tecnologias neutras, como drones e softwares, que podem ou não ser usados em práticas climate-smart.  Entre 2015 e 2017, o capital total investido na agricultura inteligente em relação ao clima somou US$ 360,9 milhões, mas essa cifra pode ser apenas a ponta do iceberg – a estimativa é que esse valor já tenha ultrapassado a marca de US$ 1 bilhão.

Embora respondam por apenas 11% do capital total investido na agricultura climate-smart, os investidores privados – basicamente investidores de impacto que buscam conciliar retorno financeiro e benefícios socioambientais – estão cada vez mais interessados no Brasil.  De 2014 a 2015, a agricultura recebeu o maior volume de capital de investidores de impacto no Brasil, com um total de US$ 31,4 milhões de capital investido.  O estudo mostra que uma parcela significativa dos investidores privados espera retorno de 12%, que é uma taxa bastante interessante para investidores internacionais.

No entanto, ainda existe uma lacuna entre investidores interessados em projetos climate- smart, sejam eles púbicos ou privados, e os empreendedores nesse tema.  “Os maiores obstáculos são decorrentes do fato de que este tipo de investimento é novo. Por isso, não conta ainda com um histórico que dê segurança aos investidores, nem com uma grande disponibilidade de projetos já prontos”, explica Angélica Rotondaro, líder da pesquisa.  “Para o investidor, seja ele de impacto ou de um organismo público, a chave que destrava a equação da agricultura climate-smart é focar na cadeia de valor, e não no negócio individualmente”, explica Angélica Rotondaro.  “Por isso, é importante analisar o mercado como um todo – por exemplo, checar se tem grandes players com capilaridade para puxar os pequenos, ou se há proximidade entre produtores e distribuidores”, explica Angélica.

Além da possibilidade de ter acesso a financiamentos internacionais, a agricultura climate-smart permite que os produtores brasileiros se alinhem ao crescente mercado de produtos sustentáveis e rastreáveis.  “Junto com o risco climático, mitiga-se também o risco das cadeias produtivas, demonstrado exemplarmente nos últimos eventos com a pecuária brasileira.  Com a crescente dependência de mercados internacionais, o agribusiness brasileiro precisa enfrentar os riscos ambientais, que estão no topo da agenda dos consumidores e também dos investidores”, alerta Angélica.

Outra constatação do estudo é o potencial de criação de novos mercados da agricultura climate smart, o que dá aos investidores a vantagem do pioneirismo.  Os riscos financeiros iniciais são amortizados pelo fato de que ainda há grande participação de financiamentos não reembolsáveis vindos de ONGs, fundações e doadores privados.  Junto com os recursos públicos. 

Um caso exemplar é o da Sambazon, criada há 18 anos, quando o açaí não era conhecido globalmente. Investidores internacionais contaram com o apoio do Fundo EcoEnterprises, constituído sob o guarda-chuva da The Nature Conservancy, para o capital inicial que permitiu viabilizar um negócio que hoje detém a liderança global de um mercado estimado em 300 mil toneladas e que deverá chegar a 800 mil em 2026.

O estudo mostrou ainda que o financiamento alinhado aos desafios das mudanças climáticas muitas vezes tem como alvo pequenos e médios produtores, gerando benefícios sociais – além dos econômicos e ambientais.  Esse é o caso, por exemplo, do PRONAF, programa governamental de apoio à agricultura familiar, que tem três linhas de financiamento alinhadas com o desafio climático que somaram US$ 53,4 milhões em empréstimos de 2015 a 2017.  O Fundo Amazônia, por sua vez, engajou 142 mil pessoas e gerou US$ 50,6 milhões em receitas para a população do bioma Amazônia desde seu lançamento, em 2008.

Para o futuro, as perspectivas são otimistas também para os grandes players do agribusiness. O mercado brasileiro é considerado um dos lugares mais promissores para os títulos verdes florestais e agrícolas. De fato, há um boom de títulos verdes no território brasileiro, com um valor total de títulos verdes vendidos de US $ 3,6 bilhões no período entre junho de 2015 e setembro de 2017. Atualmente, 24% (US $ 864 milhões) dos títulos verdes no Brasil são usados ??para levantar capital no setor florestal e agrícola. Grandes corporações, como BRF SA, Fibria, Klabin e Suzano Papel e Celulose, são os principais players.  No caso do GEF (Global Environment Facility), que disponibiliza fundos para os países em desenvolvimento, a fim de realizar convenções ambientais e alcançar as metas dos acordos internacionais, o Brasil só conseguiu alocar US$ 99,9 milhões dos US$ 837,8 milhões destinados ao nosso país para apoiar projetos relacionados com degradação da terra, biodiversidade e mudanças climáticas.

“Por meio do programa Kickstart Food, vamos incentivar os pequenos agricultores a usar métodos agrícolas sustentáveis, fornecendo-lhes o conhecimento necessário, facilitando e financiando essas possibilidades. Este é apenas o começo. Porque nós vamos fazer mais. Essa pesquisa de mercado nos dá uma ideia do que podemos fazer ainda mais no Brasil com a Kickstart Food”, destaca Eva Teekens, gerente de programas da Raboband Foundation e responsável pela iniciativa Kickstart Food no Brasil.

 

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