Agricultura
Açúcar, à espera de El Niño – Por: Arnaldo Luiz Corrêa
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Na semana, pelo relatório publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição da última terça-feira em relação à semana anterior, eles liquidaram 5,480 lotes (equivalentes a mais ou menos 280,000 toneladas).
Embora ainda detenham uma posição comprada de muita relevância com mais de 100,000 lotes, não seria razoável supor que os fundos irão retornar ao mercado de açúcar, comprando agressivamente e impulsioná-lo uma vez mais aos níveis estratosféricos envoltos de artificialismos ao qual assistimos no final de abril quando o futuro chegou a negociar a 27.41 centavos de dólar por libra-peso.
Para um gestor de um fundo especulativo faria mais sentido trocar uma posição exitosa como a do açúcar — em que o lucro tem sido generoso — por uma posição numa commodity que apresente alto potencial de lucro.
O que pode levar então o mercado de açúcar de volta àqueles níveis maravilhosos de 27 centavos em que muitas usinas deixaram de fixar porque, logicamente, acreditavam que ele caminhava a passos largos para os 30 centavos de dólar por libra-peso ou além?
O nome do jogo é clima, ou melhor dizendo, o clima é o componente mais poderoso nessa equação. Outros componentes também possuem peso: uma recuperação da economia chinesa (tem-se o sentimento hoje de que a 22 centavos de dólar por libra-peso os chineses entram no mercado comprando açúcar) e a expectativa por parte de alguns analistas do mercado de energia de que o petróleo pode mudar de patamar de preços em 2024 por conta do aumento da demanda. Curiosamente, o Brent ultrapassou os 80 dólares por barril pela primeira vez nos últimos dois meses.
Portanto, resumidamente, temos do lado dos pontos que podem empurrar os preços para cima o clima, a recuperação da economia chinesa e o petróleo negociando acima dos 80 dólares por barril. Pode parecer muito para os altistas de plantão. Do outro lado da mesa, no entanto, é que a coisa pega.
No Centro-Sul é esperado ter uma moagem de cana acima dos 610 milhões de toneladas. Alguns mais otimistas acreditam que vamos encostar nos 620 milhões de toneladas. A dúvida que paira no mercado é se o Centro-Sul terá condições de moer toda essa cana. E é nesse ponto que os altistas pegam um gancho e dizem: “não vão conseguir moer e, portanto, isso é altista”. Balela.
Tem cana de altíssima qualidade vindo aí enquanto o rendimento surpreende positivamente, ou seja, as usinas vão maximizar a produção de açúcar. Vai ficar cana em pé este ano (bisada), perto de 15 milhões de toneladas. E aí tem-se outro problema.
Certamente o Centro-Sul vai ter uma safra de cana para 2024 que combinada com o adequado investimento que foi feito nos canaviais e os devidos tratos culturais, o ano que vem promete mais açúcar. Some-se a isso que algumas usinas investiram e estão investindo em fábrica de açúcar ou aumento de capacidade de produção.
Se o clima não trouxer surpresas e a economia chinesa continuar nessa malemolência angustiante, o mercado de açúcar vai caminhar para os 22 centavos de dólar por libra-peso nível que prevemos aqui para o Natal, mas que a pressão de venda dos fundos abreviou em seis meses. Não fosse o pé trocado dos consumidores finais que se atiraram para cobrir suas posições curtas antes que o mercado resolvesse reverter, nós certamente hoje estaríamos próximos dos 21-22 centavos de dólar por libra-peso.
Com tudo isso, como acreditar que o spread março/maio 24 poderá permanecer com 140 pontos de prêmio? Safra grande, cana bisada, usinas começando muito mais cedo a moagem de 2024, quem vai pagar no açúcar de março 31 dólares por tonelada a mais do que o preço de maio?
Na semana, pelo menos, o mercado futuro de açúcar em NY encerrou no positivo. O vencimento outubro/23 apreciou 76 pontos na semana, cerca de 17 dólares por tonelada, fechando a 24.29 centavos de dólar por libra-peso. O vencimento seguinte, março de 2024 fechou com 78 pontos de alta a 24.40 centavos de dólar por libra-peso. Os contratos correspondentes à safra 24/25 do Centro-Sul (de maio-24 até março-25) fecharam 15 dólares por tonelada acima do nível da semana passada. O dólar encerrou a semana valendo R$ 4,7904.
Verão no Hemisfério Norte é sinônimo de mercado com volume menor. Pouco volume dá espaço para os algoritmos e robôs provocarem sustos aos desavisados. Ande sempre com um kit de primeiros socorros à mão. Você pode precisar.
Arnaldo Luiz Corrêa – Gerente de Riscos do mercado de commodities agrícolas, diretor da Archer Consulting e graduado em Administração com MBA em Gestão Empresarial pela FGV.
Fonte: Archer Consulting