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Abuso da cocaína: Suas repercussões no cérebro e no organismo
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O que é a cocaína?
A cocaína (éster do ácido benzoico), também conhecida por coca, é um pó branco refinado, um alcaloide estimulante com efeitos anestésicos, utilizada fundamentalmente como uma droga reativa. Ela é uma substância natural extraída das folhas da planta Erythroxylum coca, que é cultivada sobretudo em alguns países da América do Sul.
Na primeira fase da extração do alcaloide, as folhas são prensadas em ácido sulfúrico, querosene ou gasolina, resultando em uma pasta denominada sulfato de cocaína. Na segunda, e última, utiliza-se ácido clorídrico, formando o pó branco. Depois da maconha (Cannabis sativa), é o entorpecente ilegal mais consumido no mundo.
O que é abuso da cocaína?
A cocaína é um tipo de droga que atua no sistema nervoso gerando emoções “eufóricas”, bem-estar e sociabilidade. Por isso, a pessoa que se permite utilizar esta substância tende a querer usá-la novamente, e mais uma vez, e assim sucessivamente. Em razão disso, está associada a um potencial considerável de dependência e abuso.
O abuso de cocaína está relacionado ao aumento de distúrbios psiquiátricos, doenças físicas e morte. Devido aos efeitos positivos percebidos sobre o humor, a motivação e a energia, a cocaína é atraente como substância recreativa.
Como a cocaína pode ser administrada?
Alguém que abuse de cocaína pode fumá-la, cheirá-la ou injetá-la por via intravenosa (injeção). A cocaína é um pó branco e cristalino, mais comumente consumida por aspiração. Alguns consumidores chegam a injetar a droga diretamente na corrente sanguínea, dissolvendo o pó em água, o que eleva consideravelmente o risco de uma parada cardíaca irreversível ou, no mínimo, de infeções. A via inalatória pode levar à degeneração das células epiteliais ou outros tipos de degeneração de tecido da mucosa nasal, gerando uma perfuração do septo nasal (necrose). Em síntese:
- As folhas de coca podem ser mascadas ou utilizadas na preparação de infusões orais, sendo neste caso uma absorção lenta.
- O sulfato de cocaína (pasta de coca) pode ser fumado. Neste caso, a velocidade de absorção é bastante rápida.
- O cloridrato de cocaína pode ser administrado por via nasal (aspiração) ou intravenosa e a sua absorção é rápida.
A pasta base de cocaína, obtida pela mistura do cloridrato de cocaína com uma solução base como o bicarbonato de sódio, é dissolvida em éter e pode ser fumada em cachimbos, sendo chamada, neste caso, de crack.
Quais são os efeitos do abuso da cocaína?
Os efeitos mentais do abuso de cocaína podem incluir perda de contato com a realidade e um intenso sentimento de felicidade ou agitação. Por isso, a cocaína é muito viciante e existe um sério risco de dependência, mesmo se consumida por um curto período de tempo.
Os sinais orgânicos podem envolver aceleração do ritmo cardíaco, transpiração e dilatação das pupilas. Quando consumida em doses elevadas, a cocaína pode provocar hipertensão arterial e hipertermia. A sua utilização aumenta ainda o risco de acidentes vasculares cerebrais, infarto do miocárdio, problemas pulmonares em pessoas que a fumam, infecções sanguíneas e parada cardiorrespiratória.
Além disso, a cocaína é um estimulante do sistema nervoso central e um supressor do apetite. Quando esses sintomas aumentam em razão da superdosagem de cocaína, quase sempre podem levar à morte.
Os efeitos da cocaína têm início dentro de alguns segundos ou minutos após o uso da droga e duram entre cinco e noventa minutos. Considera-se que a cocaína tenha um pequeno número de utilizações médicas aceitas, tais como entorpecimento e diminuição da hemorragia durante uma cirurgia nasal.
Qual é o mecanismo fisiológico da ação da cocaína?
A cocaína atua por meio da inibição da recaptação dos neurotransmissores serotonina, noradrenalina e dopamina no cérebro. Isto traduz-se em maiores concentrações destes três neurotransmissores no organismo. Principalmente a dopamina está associada à elevação das emoções agradáveis, no entanto, também está associada a um potencial considerável de dependência e abuso.
O abuso de cocaína está relacionado ao aumento de transtornos psiquiátricos, doenças orgânicas e morte. A administração repetida das doses leva a uma diminuição da capacidade de sentir prazer, conduz ao cansaço físico e isso leva a um aumento das doses que aliviam esses sintomas, estabelecendo assim um círculo que sustenta o vício.
A cocaína pode atravessar facilmente a barreira hematoencefálica, podendo inclusive danificá-la, atingindo o feto que eventualmente esteja em gestação.
Quais são os principais sinais e sintomas do abuso da cocaína?
Os sinais e sintomas típicos do uso da cocaína incluem aumento da agitação, entusiasmo efusivo, desinibição, hiperatividade, agressividade, aumento dos sintomas comuns do resfriado e/ou hemorragias nasais, tiques musculares (movimentos musculares involuntários) e perturbações da concentração.
Um dos efeitos mais graves do abuso de cocaína é que ela pode causar cardiomiopatia (morte celular dos músculos do coração). O uso por via intravenosa pode levar à endocardite (inflamação dos tecidos internos do órgão). Esses efeitos podem gerar ataques cardíacos e arritmias cardíacas que podem ser fatais.
Outros sintomas de toxicidade cardíaca pela cocaína incluem inflamação do músculo cardíaco, ruptura da aorta (a principal artéria que leva sangue do coração para a periferia) e declínios na saúde e qualidade de vida devido a reduções na função cardíaca ou perda de sangue grave.
A insuficiência cardíaca ou o dano induzido pela cocaína também podem aumentar o risco de acidente vascular cerebral ou dano cerebral resultante de interrupções no suprimento de sangue disponível para o cérebro. O abuso da cocaína também está associado à inflamação de importantes microestruturas dentro dos rins.
Cocaína e mudanças no cérebro
O abuso de cocaína também está associado a mudanças na química cerebral ao longo do tempo. Essas mudanças se associam ao aumento da necessidade de cocaína, bem como a anormalidades comportamentais que incluem comportamento errático (que pode até resultar em traumatismo não intencional ocorrido durante acidentes), sintomas psicóticos e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Mesmo aquelas pessoas que fazem uso apenas “recreacional” da cocaína podem estar em risco de alterações neurológicas importantes. O uso “recreacional” leva à diminuição da capacidade de regular e controlar o comportamento e redução da capacidade de controlar os movimentos e de reagir a estímulos ambientais. O uso a longo prazo também está associado a déficits no desempenho cognitivo, atenção e habilidades de tomada de decisão.
Como tratar o abuso da cocaína?
Buscar, por vontade própria, tratamento para dependência é o primeiro, e necessário, passo para uma verdadeira recuperação. Existem muitas opções de tratamento disponíveis para dependência de cocaína, mas uma cura radical e definitiva continua sendo muito difícil. Em geral, os candidatos a tratamentos devem ingressar em unidades de internação, que os acomode durante o tempo necessário à terapia.
Alternativamente, o paciente pode fazer tratamento ambulatorial por meio de consultas regulares, mas nessa hipótese o tratamento será bem menos seguro, entre outras razões porque não são afastados os fatores ambientais que suportam a dependência.
As terapias farmacológicas consistem em medicamentos administrados para tratar a dependência de cocaína. Este tipo de tratamento usa medicações que imitam os efeitos da cocaína, cujas doses são reduzidas paulatinamente, com o objetivo de conseguir um progressivo “desmame” do paciente em relação à droga.
Pesquisas atuais indicam que diversas técnicas de terapia comportamental são particularmente eficazes em pacientes afetados pela dependência da cocaína. As terapias comportamentais são tratamentos psicossociais que abordam as razões, motivações e possíveis problemas psicológicos subjacentes associados ao abuso dessa substância.