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A despedida sem despedida no último adeus – Por Lane Valle


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Foto ilustrativa

“Por favor, abram o caixão. Eu imploro! Deixem eu ver minha mãe pela última vez”.  A frase, dita por uma filha ao ver o caixão com o corpo da mãe entrando no carro funerário ecoou em minha cabeça por dias, após presenciar a cena em um hospital de Rio Branco, onde, de longe, acompanhei o que se tornou uma nova via crucis de agonia diante de uma doença tão maligna que interferiu até no processo do luto, de velar, enterrar e se despedir de um ente querido.

Com restrições aos funerais, caixões lacrados, o sofrimento se tornou solitário, desumano e cruel. Diante dos protocolos para evitar a contaminação nesse momento, as últimas homenagens são feitas às pressas, às margens do jazigo, restritas a poucas pessoas que precisam se manter distantes uma das outras e com os rostos cobertos por máscaras, podendo apenas trocar olhares consternados.

A comovente cena da despedida sem despedida é compartilhada por um sem número de pessoas em todo o planeta, todos os dias. A Covid-19 acabou furtando dos sobreviventes o direito de se despedir de seus mortos, pois, por conta das recomendações sanitárias, velórios não mais acontecem. Não há tempo de avisar amigos. Não há tempo de preparar as últimas homenagens. Não há tempo de acarinhar pela última vez. Não há tempo de preparar o corpo e vesti-lo com sua roupa preferida, de pôr uma rosa perfumada e um terço em sua mão. Simplesmente não há mais tempo de nada, nem de assimilar a morte inesperada.

Lane Valle é jornalista da Secretaria de Estado de Saúde

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