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ALMT realiza audiência pública no dia 11 para discutir segurança na área de fronteira
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Após duas semanas, a cena de dois homens armados pulando o muro da casa e rendendo a família para roubar se repete indefinidamente, como em um filme de terror. Muito assustada, Giovanna Greve, 47, médica da saúde da família e vice-prefeita de Glória D’Oeste (308 km da capital), diz que foram mais de duas horas em poder dos bandidos, que diversas vezes disparam contra a cabeça do marido com o revólver sem munição.
Foram levados na madrugada do dia 21 de junho os dois veículos, uma Hilux e uma motocicleta, além de outros objetos de valor. “Eles judiaram bastante do Ângelo, diziam que iriam matá-lo e quando atiravam não havia nada, fizeram isso umas três vezes, mas era apenas barulho. Eles passaram todo esse tempo fazendo terrorismo, a minha filha de 12 anos ainda está muito abalada e está tendo acompanhamento com um psiquiatra, em Cuiabá, por causa de crises de pânico, não sei se algum dia tudo isso vai passar”.
A cidade é pequena, tem pouco mais de 3 mil habitantes, e o fato de terem assaltado recentemente a vice-prefeita e o prefeito, que são as autoridades máximas, deixou a população abalada. “Quando começa a escurecer, nós vamos para dentro de casa e não saímos mais, é um tormento, temos medo de todo tipo de barulho. Os demais moradores têm vivido o mesmo sentimento, porque não nos sentimos mais seguros”.
O prefeito Paulo Remédio relata que enfrentou situação parecida, no dia 7 de abril deste ano, quando três homens chegaram atirando em sua chácara, que fica a 2.300 metros do centro da cidade. Era um domingo, 20 horas, eles renderam a todos, incluindo a esposa, o filho e a namorada. “Enquanto a caminhonete, uma S10, não chegou à Bolívia, não foram embora. A questão material a gente supera, mas não tem como apagar os danos emocionais”.
Sem uma base fixa com policiais, Glória D’Oeste está à mercê dos criminosos que, segundo Paulo, agem tranquilamente quando e como querem. O atendimento da PM funciona por rondas em regime de plantão e a única viatura da cidade está precária e não aguenta, por exemplo, uma perseguição. “Tivemos notícia de outros assaltos parecidos nos municípios vizinhos, por isso aguardamos apoio das autoridades, para que olhem para a nossa região”.
Médico há 40 anos em São José dos Quatro Marcos (300 km de Cuiabá), o deputado estadual de primeiro mandato, Luís Amilton Gimenez, 67, diz estar bastante aflito com a crescente onda de violência na região da fronteira, principalmente pelo requinte de crueldade aplicada às famílias. “Todos os dias chegam notícias de amigos que estiveram sob a mira do revólver de bandidos, nas últimas semanas tivemos mais de cinco casos parecidos em Quatro Marcos, onde vamos parar?”.
Com aumento de roubos, furtos e sequestros, a região – que é mais sensível e contabiliza um grande fluxo de tráfico de drogas e armas – precisa de uma melhor atenção estadual e nacional com reforço da segurança na área da fronteira. Para tratar deste tema, vai ser realizada uma audiência pública na próxima quinta-feira (11), às 13h, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, na capital, por iniciativa do deputado Dr. Gimenez (PV).
O objetivo é debater a ‘Política e Estratégia de Segurança Pública na área de fronteira da Região Oeste’, buscando articular as ações e os investimentos para fazer frente aos desafios. Foram convidados representantes das principais instituições das forças de segurança estaduais, federais e municpais, dos Conselhos de Segurança Pública (Consegs), sistema de justiça criminal, além de prefeitos, vereadores, empresários e moradores das cidades dessa região. Mas o evento é aberto ao público geral.
Fronteira esquecida
Em tom de desabafo, o coronel da PM e comandante da região de Pontes e Lacerda (445 km de Cuiabá), Edgar Mauricio, já trabalhou no município em 1999 e afirma que naquela região falta tudo: de viatura adequada, estrutura nos batalhões, armamento pesado a um sistema de comunicação eficiente. De volta há cerca de quatro meses à cidade, ele lamenta que os problemas ainda sejam os mesmos e pouca coisa tenha avançado.
“O Gefron não dá conta sozinho desse trabalho, então, nossa demanda por melhorias é muito grande, precisamos de veículos 4 x 4 com tração, por exemplo, mas não temos ainda. Nossas viaturas são baixas e nos impedem de dar uma melhor resposta. Mas seguimos trabalhando de sol a sol, munidos da nossa força de vontade, porque queremos o melhor para a região que é carente em todas as áreas”.
Para o tenente-coronel Antônio Nivaldo de Lara Filho, comandante do 6º Comando Regional PM de Cáceres (217 km da capital), e secretário executivo do Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGIM), do município, como é início de um novo governo estadual e federal é momento de articular novas estratégias e boas práticas voltadas à região que reúne 28 municípios. “Temos propostas e investimentos que precisam ser debatidos”.
Um dos investimentos pleiteado para a região consiste na ampliação do sistema de monitoramento via câmera OCR (leitores ópticos de caracteres). A ferramenta, conforme o tenente-coronel Lara, facilitaria o trabalho de inteligência das polícias, mas precisa ser levada a todos os pontos estratégicos, que estão na rota das quadrilhas especializadas em roubos e furtos de veículos do Estado. “Dois pontos são essenciais, Tangará da Serra e Cáceres, porque a partir desses municípios vamos mapear e interceptar os criminosos antes do destino final”.
Comandante Antônio Lara acrescenta que é fundamental melhorar o monitoramento nas rodovias federais, a exemplo das BRs 174 e 070, e nas estradas estaduais de munícipios estratégicos, pois é fundamental não deixar que os criminosos cheguem tão perto da fronteira com a Bolívia. “Naquela região as estradas são de chão e de difícil acesso, o que dificuldade nossa equipe de trabalhar”.
Existem ainda outros investimentos prioritários para a faixa de fronteira, entre eles, a implantação de uma base do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), que ofereceria mais agilidade às equipes integradas. Essa proposta vem sendo negociada com o Governo do Estado. Também há muitas falhas na comunicação convencional que precisam ser equacionadas. “Precisamos que seja digital e não por rádio analógico, porque hoje estamos sujeitos a sofrer interceptação a qualquer momento”.
Na avaliação do coronel Mauricio, segurança abrange também questões de saúde, problemas sociais, como desemprego, e a falta de infraestrutura nas cidades. “Temos excelentes ideias, mas falta a questão prática, falta uma política de segurança”. Apesar das dificuldades, ele conta, animado, que vai inaugurar nesta semana, no município, um ‘mini’ Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), com câmeras. “A tecnologia nos auxilia muito nesse trabalho porque reduz a necessidade de mais policiais e viaturas nas ruas. Além de reforçar o trabalho preventivo, a nossa resposta é rápida, quase automática, o que gera uma sensação de segurança e acredito que este é um dos caminhos”.
Serviço
Evento: Audiência Pública ‘Política e Estratégia de Segurança Pública na área de fronteira da Região Oeste’
Data/Horário: 11/07 (quinta-feira), às 13h
Local: Auditório Licínio Monteiro, Assembleia Legislativa de Mato Grosso, localizada na Av. André Maggi nº 6, Centro Político Administrativo, em Cuiabá.
Contato: (65) 3313-6795 (Gabinete Dr. Gimenez)