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Os melhores entre nós – Por Alvaro de Carvalho
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De tempos em tempos, os temas eleitorais retornam à vida dos brasileiros. Quando eleições se aproximam ou quando crises escandalosas eclodem. Normalmente em capítulos que não são agradáveis aos bons cidadãos, o que contribui para que estes se afastem da política e fechem seus olhos para o que acontece dentro dos órgãos estatais. Estratégia proposital de uma classe política mal-intencionada que lá se estabeleceu e criou raízes daninhas.
Muitos justificam essas escolhas legítimas se baseando nas premissas da liberdade do indivíduo e na democracia — ainda o menos pior sistema de governo inventado pela humanidade, como sabiamente dizia Winston Churchill. Mas pode haver democracia plena onde o establishment criou um mecanismo eficaz de perpetuação de seus grupos no poder às custas do dinheiro público e da ignorância induzida de seu povo? Pouco provável.
Apenas no ano de 2018, os partidos políticos brasileiros (exceto do Partido NOVO, fundado em 2015) receberam 2,64 bilhões de reais de dinheiro público advindo dos fundos eleitoral e partidário. Dinheiro legalizado, caixa 1. Sem contar as verbas bilionárias dos órgãos públicos e das 418 empresas estatais controladas pelos despreparados e gananciosos que são indicados pelos mesmos partidos, em troca de seus votos nos legislativos das três esferas e até mesmo por muitos maus membros do judiciário e Ministério Público que jogam o mesmo jogo em busca de poder e dinheiro.
No Brasil são 12 milhões de funcionários públicos, muitos deles entre os mais bem pagos do planeta, além dos que se empregam em estatais ou prestam serviços em empresas “chapas brancas”, que formam um exército de influência pela manutenção do status quo. 2,4 trilhões de reais por ano em impostos usados essencialmente para o pagamento desse funcionalismo, da previdência deficitária e de juros a grandes bancos que também financiam a perpetuação deste modelo autofágico. Menos de 1% para a infraestrutura que o país precisa. Isso para falar só do dinheiro “legal” que eles tocam.
Repito, então, a questão: vivemos em um estado plenamente democrático mesmo quando todo o “arsenal” público é utilizado para manipular e desinformar o cidadão de bem? Exercer a liberdade precisa ser mais que isso. Muito mais que isso. Onde está a verdade nisso tudo? Há fonte confiável em que possamos encontrar informações fidedignas sobre o nosso dinheiro e o nosso patrimônio público?
Bilhões de reais são gastos todo mês em comunicação estatal. Esse orçamento seria verdadeiramente pouco se falássemos da tão necessária publicidade de utilidade pública, vital para qualquer boa gestão. Mas é covardemente exagerado se o real objetivo for manipular aqueles que levam informação diária à população. Desinformando-os.
Sobre o artigo constitucional acerca da publicidade dos atos públicos e sobre as leis de transparência na gestão, o Estado confunde a mera “exposição” dessas informações em portais confusos e incompletos com a necessária “comunicação” propriamente dita, que envolveria, acima de tudo, a garantia de compreensão e recebimento das mensagens puras pelo receptor, nesse caso o cidadão.
A resultante desse mega mecanismo é um povo desinformado, desinteressado e que, iludido, vota baseado em um mero ponto de identificação manipulado por um candidato desse sistema, fruto de uma campanha meticulosa e ardil, financiada com o dinheiro do próprio eleitor. Ao votar com base nesse preceito, exerce, embora com bases distorcidas, sua pseudo legítima liberdade democrática, porém abandona os critérios fundamentais que reduziriam os riscos da má gestão e indicariam pessoas melhores para, de fato, liderarem um povo.
Historicamente, as sociedades que mais prosperaram de forma sustentável, independentemente de seus sistemas de governo, tiveram em comum a capacidade de escolher seus melhores membros como seus líderes. Espartanos empoderavam seus melhores guerreiros, atenienses seus melhores pensadores, fenícios seus melhores comerciantes… Povos bem-sucedidos empoderam seus melhores homens, suas melhores mulheres. Eis a base do nosso erro, não intencional, ao eleger nossos governantes: não sabemos mais escolher os melhores entre nós. Há tempos os melhores entre nós se afastaram da política. E povo algum evolui sem boa política. E boa política não acontece sem os melhores homens e mulheres de cada povo.
Precisamos nos reencontrar com a inteligência e com a humildade para reconhecer que nossos líderes não precisam ser como nós, eles precisam ser melhores que nós. Muito melhores que nós.
Difícil é a política voltar a atrair esses humanos que nós inconscientemente desejamos, mas que não nos desejam mais.
Alvaro de Carvalho é membro de movimentos de renovação na política e filiado ao partido NOVO.