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Reflexões soltas sobre a tarefa de plantar – Por José Brissos-Lino


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Num dos seus livros de sabedoria o rei Salomão dizia que “há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou” (Eclesiastes 3:2).

Mas a palavra plantar, na Bíblia, pode ter vários sentidos. Desde logo pode referir-se ao local onde estamos espiritualmente enraizados, isto é, onde os nossos pés estão plantados: “Os que estão plantados na casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e vigorosos” (Salmo 92:13-14).

Já no Novo Testamento surge uma reflexão sobre o nosso posicionamento relativamente ao Salvador: “Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição” (Romanos 6:5). Ou seja, é a identificação com Cristo na Sua morte que nos abre a porta da esperança de sermos associados à Sua ressurreição, pois o Mestre explicara claramente “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (João 12:24).

Portanto, sejamos plantados com Ele na semelhança da Sua morte, isto é, morrendo para o mundo, como afirmava Paulo aos cristãos de Filipos: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (1:21); “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gálatas 2:20).

Nem sempre fazemos bom uso daquilo que plantamos, como sucedeu com Noé: “Começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha, E bebeu do vinho, e embebedou-se” (Génesis 9:20-21a). A vinha em si não era uma coisa má. Pelo contrário. Mas Noé fez do seu fruto uma má utilização, o que mostra que o problema moral está muito mais na utilização que fazemos das coisas do que nelas em si mesmas. O problema não está na vinha nem no vinho (o “fruto da vide”) mas na relação das pessoas com o famoso néctar.

No tocante a todos quantos fazem a obra do Senhor, nós, os que plantamos, somos apenas Seus cooperadores, pois é Ele que planta: “Ele, porém, respondendo, disse: Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada” (Mateus 15:13). Jesus falava da seita político-religiosa dos fariseus, com a qual se confrontou tantas vezes. A hipocrisia, a inveja e toda a sorte de maus sentimentos tipicamente farisaicos não foi inspirada pelo Deus da Paz. Por isso os religiosos sectários se deram sempre mal com a presença e o discurso de Jesus.

Por sua vez, depois de fazer uma aliança com Deus em Berseba, Abraão invocou o Senhor: “E plantou um bosque em Berseba, e invocou lá o nome do Senhor, Deus eterno” (Génesis 21:33). Então o que plantamos pode constituir um memorial. Um bosque não é uma árvore, mas um conjunto de árvores. Abraão esforçou-se por deixar no terreno uma marca notória que ficasse como testemunho para as gerações seguintes e que honrasse o nome do seu Deus, com quem vivia em aliança.

A vida é uma plantação contínua

A verdade é que se uns semeiam, por vezes são outros que vão poder colher: “Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1 Coríntios 3:7). E se assim é, não é legítimo que alguém se venha a gloriar de coisa nenhuma. Todavia sabemos que haveremos de receber um galardão, de acordo com o nosso trabalho: “Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho” (3:8).

Por isso existe uma lei espiritual da sementeira e da colheita que está ligada ao nosso desempenho, dedicação e esforço na obra de Deus: “E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará” (2 Coríntios 9:6).

Mas ainda será tempo de plantar? Basta conhecer as Escrituras e saber olhar o estado do mundo para entender que sim, obviamente. Jesus exortou os que o seguiam nesse sentido: “E dizia também à multidão: Quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva, e assim sucede. E, quando assopra o sul, dizeis: Haverá calma; e assim sucede. Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo?” (Lucas 12:54-56).

Passamos a vida a plantar na vida dos filhos, dos netos, dos amigos, dos colegas, dos vizinhos, do próximo, mesmo quando não temos consciência disso. Todos os dias plantamos algo na vida de alguém: alegria, decepção, amor, tristeza, coragem, desânimo, estímulo, criticismo, ira, bênção ou maldição. Plantamos sentimentos, mas também palavras, ideias, conceitos, opiniões. Mas a melhor planta que podemos plantar é a Palavra de Deus na vida das pessoas, pois ela é “espírito e vida”.

Se queremos ser plantadores da Palavra, então temos que conhecer e guardar essa mesma Palavra na mente e no coração.

Nasceu em Lisboa (1954), é casado, tem dois filhos e um neto. Doutorado em Psicologia, Especialista em Ética e em Ciência das Religiões, é director do Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, em Lisboa, coordenador do Instituto de Cristianismo Contemporâneo e investigador.

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