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Moçambicanas tiveram que trocar sexo por comida após ciclone


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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mulheres moçambicanas, vítimas do ciclone Idai, em março, estão sendo obrigadas a fazer sexo para obter ajuda humanitária, denunciou a Human Rights Watch (HRW).

Segundo a ONG, líderes comunitários, alguns deles ligados ao partido governista Frelimo, exigiram pagamento das vítimas do ciclone para incluir seus nomes na lista de ajuda humanitária.

Em alguns casos, “mulheres sem recursos foram forçadas a fazer sexo com autoridades locais em troca de um saco de arroz”, afirma a ONG em um relatório divulgado na quinta-feira (25), baseado em relatos de vítimas, moradores e trabalhadores humanitários.

“A fome e a destruição causadas pelo ciclone deixaram centenas de milhares de mulheres vulneráveis a abusos”, afirma ainda o relatório.

O ciclone Idai, que atingiu a região em março, deixou mais de mil vítimas. No dia 24 de abril, outro ciclone, o Kenneth, passou por Moçambique e Comores, deixando ao menos 38 mortos.

A ONU anunciou nesta segunda-feira (29) que liberou US$ 13 milhões de fundos de emergência para ajudar a área, com envio de água e comida e reparos de estruturas.

A ajuda humanitária para Moçambique é distribuída por organizações como a ONU em parceria com o Instituto Nacional de Controle de Desastres e autoridades locais, incluindo secretarias municipais.

Segundo a HRW, em alguns lugares mais isolados, nos quais líderes comunitários ficam responsáveis por distribuir a comida, eles extorquem os moradores se aproveitando de que não há doações para todos.

Uma trabalhadora humanitária afirmou que as listas de distribuição têm apenas nomes de homens chefes de família, e não de mulheres. “Em algumas vilas, mulheres e suas crianças não viram nenhuma comida há semanas. Elas fariam qualquer coisa para obter esses alimentos”, disse, segundo o relatório.

Outra funcionária conta que a organização internacional em que trabalha recebeu relatos de abuso sexual também de mulheres que estão nos campos de refugiados internos.

O relatório afirma que a HRW conversou, no dia 18 de abril, com três vítimas na cidade de Mbimbir, no distrito de Nhamatanda, que ficou inacessível devido às enchentes e onde a ajuda humanitária demorou a chegar.

Uma delas disse que ouviu de um secretário local da Frelimo que seu nome não estava na lista para receber auxílio, mas que ele iria até a casa dela tentar “ajudá-la caso ela o ajudasse também”.

À noite, ele apareceu com um pacote de arroz, outro de farinha e um quilo de feijão, relatou. “Quando ele chegou, colocou os sacos no chão e começou a se tocar e disse que agora era a vez de agradecê-lo”, contou a mulher. “Eu disse aos meus filhos que fossem à casa de um amigo e quando eles foram embora, eu dormi com ele”, disse ela, citada pela HRW.

Outra mulher, mãe de quatro crianças, afirmou que teve que fazer o mesmo em troca de apenas um saco de feijão.

A HRW relata que outras moradoras da região disseram ter trocado sexo por comida com um líder local que já havia sido implicado em abusos semelhantes no passado. Elas afirmam que foram ameaçadas por tentar denunciá-lo.

Um dia depois das denúncias da HRW, a ONU disse que iria investigar. “Sobre relatos de exploração e abusos sexuais, estamos agindo prontamente para acompanhar essas alegações, incluindo com as autoridades relevantes”, afirmou, em nota, o escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

“A ONU tem tolerância zero contra exploração e abuso sexual. Não é, e nunca será aceitável para nenhuma pessoa em posição de poder abusar dos mais vulneráveis”, completou.

Segundo a nota, a organização divulgou mensagens claras por vários canais de comunicação de que a ajuda é gratuita e de que abusos e exploração sexuais são inaceitáveis, além de treinar centenas de trabalhadores humanitários na prevenção de abusos sexuais.

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