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Cristãos chineses realizam cultos no Quênia, país de maioria cristã


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Todos os domingos de manhã no subúrbio de Nairóbi, no Quênia, dentro de uma pequena capela improvisada, uma congregação de migrantes chineses se reúne para orar e cantar hinos de adoração em mandarim.

A reunião acontece em espaços vazios, onde deveriam funcionar escritórios.

Os chineses encontraram no Quênia, uma nação onde 80% da população de 50 milhões de pessoas são cristãs, condições e liberdade para exercerem sua fé. Naquele país, podem cultuar sem medo da guerra do ateísmo comunista contra a religião, que está cada vez mais acirrada em seu país de origem, a China.

O grupo de migrantes é formado por importadores de roupas íntimas, trabalhadores de saúde e operadores da nova ferrovia chinesa de US $ 3,8 bilhões que corta o Quênia, o maior projeto de infraestrutura do país desde a independência. Assim, o Quênia se tornou uma importante economia africana que tem recebido crescente investimento chinês.

Em 2017, a China era o maior parceiro comercial do Quênia e, em 2014, o país abrigava cerca de 40.000 imigrantes chineses.

O acordo comercial trouxe parcerias sociais e afetivas. Alguns chineses se casaram com quenianos; outras famílias têm filhos chineses que falam suaíli tão bem quanto o mandarim.

Mas todos compartilham duas coisas. As pessoas refizeram sua vida, mudando-se da China comunista para o Quênia, onde podem abraçar abertamente a fé e Deus.

O despertar religioso acontece em um momento perigoso para os cristãos na China, enquanto o governo do Partido Comunista proíbe a venda online de bíblias, igrejas são dinamitadas e há prisões de cristãos por “incitar a subversão do poder do Estado”. O Partido Comunista vê qualquer grande grupo fora de seu domínio como uma ameaça.

“Publicamente, é perigoso ser cristão na China agora”, diz Jonathon Chow, 43 anos, pastor da Igreja Bread of Life (Pão da Vida), com sede em Taiwan, mas com 500 ministérios, incluindo muitos na África Ocidental.

Anteriormente, as igrejas da organização na África tendiam a ser administradas e frequentadas por africanos, diz ele. Mas, cada vez mais, a Bread of Life está vendo congregações lideradas pela China se formando em todo o continente, à medida que mais chineses se mudam para a África e interagem com os valores locais.

Durante todo o culto, um casal de meia-idade da província de Shandong, que diz ser novo no Quênia e no ministério, publica clipes de hinos e fotografias de leituras no WeChat, uma rede social monitorada de perto pelo governo chinês.

“A maioria da congregação aqui foi salva no Quênia”, diz Chow. “A menos que eles fossem crentes antes de virem, a maioria não sabe muito sobre as condições cristãs na China.” 

Casamento só com cristão

A primeira vez que Liang Yongyu conheceu Karen Ngunjiri na empresa de publicidade de outdoors, onde ambos trabalhavam em Nairóbi, ele disse que ela seria sua esposa.

O casal namorou por 6 meses, até que surgiu um obstáculo que ameaçava impedir a união deles. Liang, 33 anos, não era cristão.

“Esse foi um problema para mim”, diz Karen, 29, que passou quatro anos estudando mandarim em Nanning, no sudoeste da China. “Ele sendo chinês? Não é um problema. Mas ele não sendo um cristão, eu pensei que isso seria um grande problema. Como poderíamos educar nossos filhos?”

Liang viveu no Quênia “por um longo tempo”, podia falar um pouco de suaíli e “ouvir muito sobre o cristianismo” de seus amigos quenianos, diz Karen. Depois de alguma busca, ele disse que “estava aberto para explorar o que o cristianismo tinha a oferecer”, contou a noiva.

Liang conectou-se com uma igreja em Nairóbi que mantinha reuniões em cantonês, o idioma falado em sua província natal de Guangdong, no sul da China, e em Hong Kong, de onde vieram os pastores que fundaram o ministério.

Em dezembro de 2018, os pastores de Hong Kong casaram o casal em uma cerimônia cristã na sombra do Monte Quênia, realizada para 200 convidados. “Um pequeno casamento para os moldes do Quênia”, brinca Karen.

Semanas depois, um vídeo de seu casamento se tornou viral no YouTube com o título: “O CASAMENTO QUENIANO QUE TODO MUNDO ESTÁ COMENTANDO”.

Karen ainda não sabe quem fez o upload, mas por meses os recém-casados não puderam andar pela rua em Nairóbi sem serem reconhecidos. A novidade de uma mulher queniana casando-se com um homem chinês chamou a atenção das pessoas.

Em vez de Karen Ngunjiri ser dominada pela cultura chinesa, foi Liang quem mudou sua fé e concordou com um casamento cristão-africano com apenas 20 convidados chineses que não incluíram sua mãe, adotando uma nova cultura a 5.000 quilômetros de casa.

Nova fé

Os chineses que chegam ao país para trabalhar acabam se deparando com o ambiente e estilo de vida cristão dos quenianos.

A chinesa Annie Hu, de 30 anos, que se mudou para o Quênia há cinco e trabalha como gerente da região da África Oriental para uma tecnologia financeira chinesa, ou fintech, gigante.

A família de Annie é budista, mas em Nairóbi ela começou a frequentar igrejas cristãs, incluindo a Bread of Life e a Congregação Cantoniana Unida, frequentada por Liang, além da uma igreja Maasai.

“Os quenianos acreditam em Deus mais do que meus amigos ocidentais”, diz ela. “Uma vez que nos envolvemos com a comunidade local, é inevitável sermos convidados a participar da igreja. Essas pessoas são muito amigáveis e confiáveis e tentam construir uma comunidade de apoio para os chineses.”

O pastor Chow, da Bread of Life, concorda que a igreja é uma importante rede social para os recém-chegados. “Eu também acho que as diferenças culturais e as dificuldades que os chineses sentem aqui significam que estão mais abertas ao evangelho”, diz ele.

Jonathan Chow, 43 anos, pastor sênior da Igreja Bread of Life, faz um sermão para a congregação de Nairóbi. (Foto: Reprodução/CNN)

Para Annie, flertar com várias comunidades cristãs ainda não resultou em uma conversão completa, embora ela não descarte isso. “Trouxe mais religião à minha vida”, diz ela, “mas não cheguei ao ponto de querer ser cristão ainda”.

Mas não são apenas os chineses no Quênia que estão adotando o cristianismo. Muitos estudantes chineses na América, na Austrália e no Reino Unido estão voltando para casa como cristãos, diz Ian Johnson, autor de “As almas da China: o retorno da religião depois de Mao”.

Escondidos da perseguição

A embaixada chinesa em Nairóbi já se aproximou dos líderes de alguns grupos cristãos chineses na cidade e pediu que desistissem, diz Li.

É notável que as três principais igrejas cristãs em Nairóbi sejam administradas por pastores chineses de Taiwan, Hong Kong e Malásia – lugares fora da China continental onde o povo chinês desfruta de mais liberdade religiosa cristã.

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China (Mofa), em Pequim, disse que “não estava ciente” dessa situação, acrescentando que a China não tem “as chamadas igrejas domésticas”.

Alguns cristãos no Quênia, no entanto, que aprendem sobre os perigos potenciais que os esperam na China, dizem que pode ser um impedimento para retornar.

Jimmy Hong Zhen Wu, 53 anos, comerciante da província de Guangdong, tornou-se cristão durante a década que passou vivendo no Quênia, onde sua esposa deu à luz duas filhas, menores de 8 anos.

Ele viaja para a China regularmente a trabalho e diz que está consciente da vida dupla que precisaria ter se fosse voltar para casa.

“Em público, na China, não podemos falar sobre nossa fé”, diz Wu, que não queria que seu nome verdadeiro fosse usado. “Só com amigos e familiares podemos dizer que somos cristãos.”

Se suas filhas, que passaram a vida em uma sociedade orgulhosamente cristã e frequentando a igreja todos os domingos, terão de entende esses limites se a família delas, um dia, precisar voltar para a China.

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