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Aprenda a identificar um teólogo liberal – Por Alex Esteves


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Minha esposa começara a ler uma obra sobre vocação, baseada no Livro de Jonas. Num primeiro momento, considerou interessante a abordagem, além de reconhecer que o autor escreve bem e demonstra erudição teológica, até deparar com a afirmação de que a história de Jonas seria uma parábola, com uma nota de rodapé ressalvando que isso não importa. Com razão, ela ficou preocupada, porque o próprio Jesus atestou a historicidade de Jonas, aquele que ficou três dias e três noites no ventre do peixe.

O autor em questão é Eugene H. Peterson, e o livro é À sompra da planta imprevisível, editado no Brasil pela United Press. Ele é também o autor da paráfrase bíblica A Mensagem, publicado entre nós pela Editora Vida.

Depois de uma pesquisa na internet, minha esposa descobriu que o pastor Peterson já disse, numa entrevista, que concordaria em celebrar um casamento entre pessoas do mesmo sexo – afirmação da qual se retrataria.

Embora eu não tenha encontrado, ainda, da parte de teólogos renomados, declarações contundentes de que Eugene Peterson seja um teólogo liberal, ele já se posicionou favoravelmente ao livro “O amor vence” (editado no Brasil pela Sextante), no qual Rob Bell advoga ideias universalistas, com a consequente descrença na existência do inferno como destino eterno. Para Peterson, Bell pode estar errado, mas a discussão é válida… Seja como for, o questionamento da historicidade de Jonas, a declaração de que celebraria um casamento gay e a posição favorável a um livro universalista, vistos em conjunto, constituem indícios (não desprezíveis) de liberalismo teológico, o que enseja uma justificada preocupação.

Outro livro que minha esposa leu parcialmente foi Albert Camus e o teólogo, publicado no Brasil pela editora Carrenho – sim, temos uma biblioteca um tanto diversificada… O teólogo do título era o liberal Howard Mumma, que teve a chance de estabelecer uma amizade com o intelectual e cético franco-argelino Albert Camus, uma pessoa muito inteligente e cheia de perguntas. No entanto, como o pastor Mumma era tão descrente quanto Camus em diversas questões – para ele, por exemplo, Adão e Eva não existiram… – não poderia haver progresso quanto à fé.

Não é por acaso que um teólogo que chama Jonas de parábola concorda com o casamento gay ou defende a validade da discussão sobre a inexistência do inferno. Semelhantemente, não deve ser raro um pastor liberal tentar seduzir um intelectual ateu com palavras inteligentes e sofisticadas, mas infrutíferas para a salvação.

Felizmente, desde criança minha esposa foi bem orientada na palavra de Deus, e sabe identificar liberais, mas nem todo mundo sabe.

Pastores e teólogos liberais dão sinais evidentes, que precisam ser percebidos pelo cristão que se pretende ortodoxo. De modo geral, eles têm dificuldade com o sobrenatural, chamando de “mito” ou “lenda” o registro de acontecimentos milagrosos ou extraordinários, e classificando como “parábolas” ou “alegorias” as narrativas que não conseguem explicar (existem parábolas e alegorias na Bíblia, em meio a um conjunto variado de gêneros literários e figuras de linguagem, mas a própria Escritura indica com clareza as narrativas que devem ser lidas como históricas, devendo-se primar por esse critério, e não pela avaliação subjetiva e arbitrária levada a cabo por certos teólogos).

Como existem diferentes matizes dentro do liberalismo, nem sempre se acharão num liberal todos os indícios correspondentes a essa perspectiva teológica, mas, uma vez diagnosticado, o liberalismo pode ser debitado, sem favor, à conta da incredulidade. É como se o liberalismo teológico fosse a religião cristã sem Cristo.

Quanto ao Antigo Testamento, liberais costumam dizer que Moisés não escreveu o Pentateuco ou que as Escrituras Judaicas foram editadas muito depois do período a que se referem (teorias documentárias); pensam que o Antigo Testamento é apenas o registro das experiências religiosas do povo hebreu, a maneira como os judeus interpretaram sua própria história.

No que diz respeito ao Novo Testamento, liberais gostam de distinguir passagens divinamente inspiradas de textos que teriam sido culturalmente determinados (novamente, a questão gira em torno daquilo que não aceitam); valorizam mais o exemplo moral de Jesus do que os aspectos vicário e expiatório de Sua morte, havendo aqueles que separam o Jesus Histórico do Cristo da Fé; ensinam que Livros do Novo Testamento foram escritos, não pelos autores que conhecemos, mas por seus discípulos, em torno de ideias centrais (“círculo joanino”, “círculo paulino”…); à semelhança do que teria havido, na concepção liberal, com o Antigo Testamento, o Novo Testamento seria apenas o registro das experiências religiosas dos primeiros cristãos, a forma como entenderam os fatos históricos e explicaram suas esperanças em relação ao Messias.

Manipulando as Escrituras, os liberais defendem o que quiserem, porque precisam contornar os elementos escriturísticos que se aceitam somente pela ação do Espírito Santo. São profetas da falta de fé.

Entre nós, brasileiros, lamento que essa peroração sobre os liberais seja tempestiva. Explico: fruto de uma cristianização do espírito iluminista, e muito associado à natureza do Homem Moderno, o liberalismo teológico avançou na Europa e nos Estados Unidos nos Sécs. XIX e XX, matando igrejas, principalmente históricas. Depois do estrago feito no Hemisfério Norte, o modernismo ou racionalismo teológico veio encontrar refúgio tardio em instituições de teologia brasileiras, frequentadas, muitas vezes, por cristãos conservadores.

Alguns, privilegiando cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação – o que, diga-se, não é necessário para a formação confessional -, acabam reféns de disciplinas conduzidas por professores ateus, céticos, incrédulos, que vivem a provocar e confundir as mentes de alunos indefesos. Outra face do problema é a seguinte: professores liberais formam pastores que, sem o devido discernimento, poderão reproduzir no púlpito as heresias que ouviram no banco do seminário ou faculdade, e o farão sem necessariamente entender que se trata de teologia liberal.

O liberalismo teológico é, pois, uma ameaça real, não um tema de interesse exclusivamente acadêmico. Há o risco concreto de que, sem o saber, igrejas históricas e pentecostais históricas entreguem a professores liberais a orientação teológica de candidatos ao pastorado, ou de que membros dessas igrejas, interessados em aprimorar seus conhecimentos bíblicos, acabem preenchendo as fileiras daqueles que irão receber orientação teológica fundamentada na falta de fé.

Cristãos conservadores conscientes dessa realidade podem sobreviver a mestres liberais, mas aqueles que não forem devidamente alertados poderão ficar confusos, enfraquecidos espiritualmente ou mesmo se deixar seduzir pelo canto da sereia de uma intelectualidade crítica aos fundamentos do credo histórico.

Filosofias e teorias sociais ganham força na teologia liberal. É assim, por exemplo, que liberais gostam de chamar Paulo de “machista”, e que o movimento feminista e a agenda gay constroem suas “teologias” sobre alegada fundamentação cristã. É daí que surge um forte vínculo entre liberalismo teológico e o que se pode chamar de “esquerdismo teológico”, visceralmente associado ao esquerdismo político (nem todo esquerdista político é um esquerdista teológico, mas todo esquerdista teológico tende a ser esquerdista político) – a primeira vez que deparei com a expressão “esquerda teológica” foi no livro O que estão fazendo com a Igreja?, de Augustus Nicodemus, publicado pela editora Mundo Cristão.

Por fim, por mais curioso que possa parecer, a visão que os liberais têm da Bíblia como mero registro de fé acabou sendo comum na prática de igrejas “neopentecostais”, as quais frequentemente atribuem a atos, objetos e eventos bíblicos o significado espiritual que convém aos seus interesses. Liberais coerentes com seu sistema ideológico deveriam aplaudir a criatividade dos “neopentecostais”, já que para ambos os grupos a Bíblia é um pretexto a ser livremente manuseado, conforme os pressupostos e interesses do leitor – tal fenômeno parece ser o bizarro casamento da falta de fé com o abuso da fé alheia.

 

Alex Esteves

Ministro do Evangelho na Assembleia de Deus em Salvador/BA. Membro do Conselho de Educação e Cultura da CONFRAMADEB. Bacharel em Direito. Casado e pai de três filhos.

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