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Após 3 meses, aldeias indígenas seguem sem atendimento


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Após cerca de 3 meses da saída dos médicos cubanos do programa federal “Mais Médicos”, Mato Grosso continua com 58 vagas a serem preenchidas em 23 municípios mato-grossenses e nos cinco Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) localizados no Estado, que ao todo, contava com 132 cubanos cooperados.

“É difícil a gente ficar sem médico. Isso significa desistência na atenção básica. Na verdade, o ‘Mais Médicos’ era diferenciado do que é feito na cidade que é mais hospitalar”, comentou o secretário-executivo da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (FepoiMT), Lucio Waane, da aldeia Guadalupe, que compreende a terra indígena (TI) São Marcos, dos povos Xavantes, em Barra do Garças (516 quilômetros de Cuiabá).

Segundo ele, a TI contava com nove profissionais cooperados ao programa federal para atender cerca de 5 mil indígenas. Hoje, os pacientes precisam se deslocar até à cidade. “São 125 quilômetros até Barra. Imagina como é quando a gente vê um indígena passando muito mal e a estrada é muito ruim. Então, é muito demorado o transporte até a cidade. Com o carro ‘bom’ são mais ou menos duas horas”, disse. Por lá, segundo ele, o diabetes é uma das principais doenças que acometem os adultos. Já entre as crianças, estão desnutrição e casos de pneumonia.

Situação semelhante enfrenta a TI Umutina, localizada na região de Barra do Bugres (150 quilômetros, ao sudoeste da capital) e que conta com 600 indígenas. “Antes era uma equipe formada pela Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e o médico (cubano) com toda equipe, como enfermeiro e dentista, ficava 15 dias em uma área para atender toda a população. Era um rodízio. Acabavam esses 15 dias, a equipe ia para outra região mais próxima. Agora, com a mudança, o Conselho de Saúde Indígena precisa fazer articulação com o município para tentar fazer o acompanhamento na terra indígena. Mas, na maioria das vezes, isso não acontece por que muitas vezes o município não tem a condição de fazer com o que o atendimento médico chegue até essas áreas”, disse o diretor da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (FepoiMT), Valdemilson Ariabo, da aldeia “Bakalana”.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, nesta quinta (7) e na sexta-feira (8), conforme cronograma estabelecido pelo Ministério da Saúde, o sistema de preenchimento de vagas (SGP) será reaberto para a escolha das vagas remanescentes por médicos brasileiros formados no exterior (sem CRM). Nos dias 18 e 19 de fevereiro será a vez da escolha das vagas remanescentes por médicos estrangeiros (sem CRM).

Em novembro de 2018, o governo de Cuiabá decidiu sair do programa “Mais Médicos” após o presidente Jair Bolsonaro questionar a preparação dos profissionais cubanos, condicionar sua permanência no programa “à revalidação do diploma” e impor “como via única a contratação individual”. O país caribenho envia profissionais para atuar no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2013, quando o governo da então presidente Dilma Rousseff criou o programa para atender regiões carentes sem cobertura médica.

Em Mato Grosso, há 43 povos indígenas distribuídos em 87 áreas. Dados da Fundação Nacional do Índio (Funai) mostram que, no Brasil, dos 209 milhões de habitantes, 1 milhão são indígenas, vivendo em uma área que representa 12,5% do território nacional. Em Mato Grosso, o percentual do território destinado a Terras Indígenas é semelhante: em torno de 12%, dos 903 mil quilômetros quadrados de extensão.

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