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Sem fiscalização, existe tendência de secar o Pantanal, alerta vice-presidente de associação de proteção


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Nesta terça-feira (5) é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. Em Mato Grosso, um dos biomas mais ameaçados é o Pantanal. André Turony, vice-presidente da Associação de Defesa do Pantanal (Adepan), afirma que os problemas vêm de fora da região e que se nada for feito há um sério risco de que as próximas gerações não possam desfrutar da planície alagada.

Todo o lixo e poluição que chegam ao bioma saem, principalmente, da baixada cuiabana e Turony afirma que políticas publicas e fiscalização seriam essenciais para que isto fosse evitado.

Turony afirma que os problemas do Pantanal vêm de fora. Ele defende que as leis de proteção do bioma sejam aplicadas nas cabeceiras das águas que deságuam no Pantanal. De lá é que sai todo o esgoto, agrotóxicos e lixo que para nas baías da planície alagada. Ele também aponta outros dois grandes problemas.

“Esta questão da limpeza urbana é uma das principais, as águas não tratadas, são toneladas de excremento humano, de lixo, que está vindo de Cuiabá, Barão de Melgaço, Cáceres. Outro aspecto grave é o da erosão que está acontecendo nas margens dos rios, porque não está se respeitando uma distância mínima de proteção das margens. O terceiro grande drama são os garimpos que existem em Poconé e Chapada dos Guimarães. Porque a baixada cuiabana é rica em ouro, e o pessoal faz muitas crateras e buracos, que atingem o lençol freático e vem prejudicando enormemente a região”, explica.

A dificuldade em resolver estes problemas, segundo ele, é que em todos estes casos a solução acaba esbarrando em pessoas poderosas e o interesse delas muitas vezes está acima da preservação. Ele e os outros proprietários de pousadas da região tentam apenas não se tornarem também um problema.

“Esta é a única coisa que conseguimos fazer. Nossa obrigação é exercer esta atividade com o menor impacto possível. Quer dizer, espaçamento dos afluentes, tratamento do lixo sólido, e ficar atentos aos sinais de mudança. Mas as pousadas não são problema, elas são uma coisa muito pequena, o problema é a água que chega ao pantanal, com esgoto, lixos, agrotóxicos”.

Ele afirma que a solução seriam polícias públicas sérias e fiscalização eficiente. Porém, não crê que a situação melhore, já que, segundo ele, nossos governantes não teriam interesse nesta preservação.

“Isto se resolve com políticas públicas, resolve com fiscalização, se resolve com seriedade, mas como estamos em um estado onde governadores e prefeitos são garimpeiros, estas leis são atenuadas e o meio ambiente paga o pato. Hoje não se percebe tanto, mas as gerações futuras não verão o que eu já vi aqui, infelizmente. Há uma tendência para secar o pantanal. O pantanal não tem problema dentro dele, o problema está fora”.

Falta conscientização

O lixo jogado no Rio Cuiabá desce e vai parar na Baía de Chacororé, a maior do Pantanal. Com o final do período de chuvas, mais dejetos ainda devem ser levados pelo rio até a baía antes do período de seca, mais ou menos no mês de julho.

O engenheiro sanitarista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso, Rubem Palma de Moura, especialista em Hidráulica e Saneamento, diz que o próprio lixo jogado nas ruas acaba sendo levado por enxurradas, em dias de chuva, para o rio, em direção à baía, onde forma camadas de lixo sob o solo.

“Eu costumo dizer que o lixo daqui sai com passagem de ida sem volta para Chacororé. Este lixo entrou para lá por um canal que tem uma determinada velocidade, encontra a baía que é um ambiente lêntico, ou seja, não há praticamente velocidade ali dentro, então o lixo tende a parar ali. E na medida que a baía for descendo este lixo chega ao solo, lá pelo mês de julho ele já está encostado no solo, por enquanto ele está flutuando. Na próxima cheia, do ano que vem, quando vier, este lixo vai ser encoberto pelo material que é transportado e sedimenta na baía, acontece uma estratificação de lixo, vai formando camadas”.

Rubem afirma que o saneamento básico é um dos principais problemas. O engenheiro disse que na capital o trabalho não é feito da forma correta e que a situação não tem previsão de melhoras, já que nas últimas gestões não foram feitas obras para renovar o sistema.

“Nós temos aí mais de 20 anos sem investir em esgotamento sanitário dentro da cidade, inclusive isto já poderiam ter sido resolvido há muito tempo. Estaríamos tratando sem deixar cair no Rio Cuiabá. O esgoto que é veiculado pelo Mané Pinto, Prainha, Gambá e Barbado, representa 50% do esgoto gerado em Cuiabá, e como na capital em 2/3 do ano não há chuva, nós já teríamos livrado esta carga poluidora do rio, isto seria um ganho muito grande. E tem os outros sistemas autônomos espalhados por aí, que nós conseguiríamos ter 75% do esgoto tratado”.

No entanto, ele também critica a falta de conscientização dos cuiabanos. Rubem acredita que a maior parte da população cuiabana ainda não se preocupa com a preservação do rio.

“Vou te contar uma história, no córrego do Gambá, ali próximo à avenida Senador Metelo, na primeira casa mora uma senhora que joga todo o lixo dela dentro do córrego. Um dia eu resolvi conversar com ela, falei ‘a senhora sabe que isto daqui vai chegar no rio, vai ter problema’, ela virou para mim e falou ‘o lixo é meu e eu faço dele o que eu quiser, e para de encher o saco’, então não sei se essa falta de educação, de conscientização é de todo mundo, mas eu acho que uma parcela considerável da nossa população não tem consciência sobre a preservação do rio”.

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