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Crítica – Titãs tem 1ª temporada lenta mas promissora
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Entre o fan-service e a busca por uma identidade própria, Titãs, a primeira série original do serviço DC Universe conclui sua primeira temporada com um saldo positivo, ainda que tenha um longo caminho para percorrer neste concorrido cenário televisivo.
Esta primeira temporada de Titãs se iniciou com uma certa descrença por parte do público. Muitos questionavam a caracterização dos personagens, e embora o primeiro episódio tenha silenciado este debate para muitos, também apresentou uma abordagem equivocada, introduzindo seus protagonistas com impactos irregulares, e estabelecendo um tom sombrio para a série que considerei gratuitamente excessivo, no início (Leia as primeiras impressões aqui).
Conforme os episódios avançavam, no entanto, ficou clara, a intenção da série de tratar a violência não apenas como um artifício apelativo ao público, mas como um tema narrativo para a trajetória de seus personagens, principalmente Robin, e sua jornada de autodescobrimento. O destaque dado a Dick Grayson (Brenton Thwaites) também evidencia o quanto Titãs precisa repensar sua estrutura narrativa, e a maneira como equilibra seus personagens principais.
Embora Ravena (Teagan Croft) tenha sido responsável por gerar uma boa parte das tramas desta temporada, a evolução da personagem parece ter ficado em segundo plano perante a necessidade da série de colocar os protagonistas em novos conflitos, a cada episódio. Estelar (Anna Diop) teve uma trajetória baseada em redescobrir suas origens e recuperar suas memórias (novamente, autodescobrimento), que embora não tenha sido tão substancial, reforça um dos principais méritos da série, até então: Consistência temática (Tal qual Robin, Mutano também precisa lidar com o peso de sua consciência em situações violentas).
Os personagens recorrentes, Hank (Alan Ritchson), Dawn (Minka Kelly) e Donna Troy (Conor Leslie), foram introduzidos de maneira orgânica na série, e sutilmente estabelecem o passado da trama, indicando uma formação original do grupo que eventualmente será estabelecido na série como Titãs. O núcleo dramático de Hank e Dawn consegue estabelecer bem a dinâmica do casal e sua posição dentro deste universo de personagens, mas por conta da estrutura falha que mencionei anteriormente, a trama paralela do casal desvia a atenção do conflito principal, muito mais do que o complementa. (Como fã de HQs que cresceu nos anos 2000, no entanto, aquece o coração ver Donna Troy em pessoa, e como exploraram sua relação com DIck Grayson).
A tão debatida caracterização dos personagens não demora a ficar confortável para o espectador, visto que a série apresenta um equilíbrio interessante entre os aspectos cartunescos dos quadrinhos, e a tão venerada abordagem “realista” que os fãs apreciam neste universo. As sequências de ação, por sua vez, trazem altos e baixos. A violência continua (gradualmente menos discrepante), e as cenas possuem uma montagem envolvente, ainda que algumas delas aproveitem demais a facilidade de ambientes escuros. Quem acompanha as séries da DC na CW não deve ter muito do que reclamar por aqui, e tudo indica que um orçamento maior estaria em boas mãos para futuras temporadas.
Quando se vê a lista com os nomes dos episódios desta temporada, é fácil imaginar que a série estaria dependendo demais do uso de fan-service para atrair o público. No entanto, embora tenhamos uma execução mais episódica do que muitos gostariam, elementos das HQs como A Patrulha do Destino (que logo terá sua própria série) e a introdução de Jason Todd (Curran Walters) como novo Robin são trabalhados com a devida função de mover a trama e a evolução dos personagens, ao invés de apenas aparecerem por aparecerem.
Ainda assim, continuo a perceber um embate entre a intenção de Titãs de estabelecer sua própria identidade, e sua dependência do material original. Por um lado, a série parece querer desenvolver seus personagens livres de qualquer expectativas que possam vir de suas versões nas HQs, e se mostrar adequada, também, ao público casual. Todos estão apenas em suas fases iniciais, e a dinâmica do grupo vai sendo construída sem a menor pressa de alcançar o status mais conhecido pelo público aficionado. Ao mesmo tempo, os episódios contam com o conhecimento prévio do espectador para que vários dos ganchos narrativos e exposições de contexto tenham o efeito necessário. Para uma primeira temporada, Akiva Goldsman, Greg Berlanti e Geoff Johns parecem estar desenvolvendo duas séries em uma, com intenções diferentes.
Dentro desta estrutura episódica, as tramas principais da série se moveram lentamente (os personagens só estão realmente juntos no quinto episódio). Dick caminha para sua realização como o futuro Asa-Noturna, mas novamente, não parece haver pressa dos roteiristas para alcançar tais momentos mais marcantes. Mutano ainda só pode se transformar em um tigre (o orçamento da série deve ter um grande peso aqui também) e Ravena está longe de ser a figura impositiva que suas outras representações sempre esbanjaram. Os personagens estão no caminho reconhecível, mas a paciência do público atual só poderá ser exigida desta forma se as tramas continuarem envolventes o suficiente para conter qualquer ansiedade.
Como primeira série original do serviço de streaming DC Universe, Titãs também tem a (difícil) responsabilidade de abrir caminho para as novas produções que logo chegarão ao catálogo. A introdução da Patrulha do Destino já mostrou os principais temas que devem ser abordados na próxima produção, e citações de grandes personagens do universo DC (A trindade principal já foi toda citada) deixam clara a liberdade que o catálogo terá para adaptar as HQs com mais propriedade (Algo que Arrow só podia sonhar em sua primeira temporada). Uma vez que o grupo estiver estabelecido em toda a sua glória, o céu é o limite para os possíveis arcos que trarão ainda mais expansão para este universo.
E eis que Titãs encerra sua primeira temporada apostando todas as suas fichas em um “episódio de sequência de sonho”, com Robin encarando seus maiores dilemas enquanto enfrente a versão mais pessimista de seu mentor. Como final, fica abaixo das expectativas, ainda mais quando tivemos outros episódios muito mais impactantes para o crescimento do personagem. A ameaça de Trigon foi apenas vislumbrada, até agora, e os fãs precisarão esperar até a próxima temporada para poder continuar esta história. É, mais uma vez, um erro de estrutura, que impede a série de proporcionar o impacto de uma devida conclusão, deixando apenas histórias em potencial para serem teorizadas pelos fãs.
A segunda temporada já foi confirmada, e o grupo formado até aqui tem plena capacidade de fazer jus ao material original dos Jovens Titãs. Nos resta torcer para que os produtores do DC Universe lembrem-se que por mais legais que sejam estes personagens super-poderosos, a memorabilidade sempre virá das histórias emocionantes que eles protagonizam.