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Doação de órgãos em Mato Grosso ainda é pouco popular e apenas um tipo de cirurgia é realizada
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A família do catador de latas Ângelo Pedroso de Lima, de 49 anos, morto atropelado na madrugada do último dia 5, na Avenida Beira Rio, em Cuiabá, é um dos raros exemplos em Mato Grosso de pessoas que decidem doar os órgãos de seu familiar. As córneas de Ângelo foram transplantadas para outra pessoa, que conseguiu ter sua visão de volta. A cirurgia de córnea é a única de transplante realizada no estado. A decisão de doar, porém, ainda é pouco popular.
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Celso Pedroso, irmão de Ângelo, disse que foi exatamente isso que ouviu no hospital quando optaram por doar as córneas do irmão. Ele disse que a família pensou em poder trazer alegria a uma outra família, já que não teriam Ângelo de volta.
“Pensamos que nós poderíamos fazer alguma família feliz, já que não teríamos nosso irmão de volta. Então foi essa a decisão que nós tomamos, para que uma pessoa de outra família, através dele, pudesse ganhar a habilidade de enxergar novamente, porque se você enxerga você vive novamente, esse era o nosso pensamento”, explicou.
De acordo com Celso, a conversa sobre doação de órgãos nunca havia surgido entre Ângelo e outra pessoa da família. No entanto, em reunião, todos aprovaram a doação das córneas do irmão.
“Nunca chegamos a conversar sobre isso antes. No dia eu reuni meus irmãos e a minha mãe e em comum acordo chegamos a esta decisão, de doar as córneas dele. E não ficamos sabendo para quem foi o órgão, é norma do hospital manter em sigilo. Só recebemos depois uma ligação nos informando que o órgão já havia sido transplantado para uma pessoa, a direção ligou para agradecer”.
O único órgão doado foi a córnea. O transplante do órgão, inclusive, é a única cirurgia do tipo realizada em Mato Grosso. Eles não doaram outros por causa do estado em que o corpo de Ângelo ficou após sua morte.
“Pelo fato dele ter sofrido um acidente, sofreu morte cerebral, segundo os médicos. Três dias depois ele veio a falecer, então alguns órgãos dele já estavam bem danificados, sofreu hemorragia por exemplo”, explicou.
De acordo com a Coordenadoria de Transplantes da Secretaria de Estado de Saúde (SES), em Mato Grosso o transplante de córnea é realizado em apenas em duas unidades hospitalares, ambos atendendo ao Sistema Único de Saúde.
A Coordenadoria avalia que a evolução do Cadastro Técnico Único de Córnea, em nosso Estado, tem sido positiva, considerando que o número de transplante realizado no ano de 2017 foi de 246 procedimentos e, de acordo com o previsto em estudo realizado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos –ABTO, a necessidade desse tipo de transplante em MT é de 294 procedimentos ano.
Entre os anos de 1998 e 2009 era ofertado em Mato Grosso o Programa de Transplante de Rim, que foi paralisado devido a problemas no processo de Renovação de Autorização da Unidade, junto ao Sistema Nacional de Transplantes.
Outras cirurgias, como o Transplante Cardíaco, são realizadas nas quatro regiões do Brasil em 12 estados e o Distrito Federal. Devido à especificidade do procedimento a demanda de Mato Grosso é encaminhada, via Tratamento Fora de Domicilio, para os centros de referencia, conforme a regionalização.
Atualmente, em Mato Grosso é ofertado apenas o transplante de córnea (tecidos). O Cadastro Técnico Único (lista de espera) para esse procedimento é de 92 pacientes (de acordo com a SES esse cadastro é dinâmico e a todo momento há alterações no número), sendo realizados este ano, 115 transplantes de córneas até o último dia 23 de maio.
Para o futuro, no entanto, há outros projetos, como a finalização do processo de Autorização de Estabelecimento e equipe especializada em Transplante Renal, com previsão de início a partir do segundo semestre de 2018.
O órgão responsável pela condução e controle de todas as ações relacionadas à doação e o transplante de órgãos e tecidos em Mato Grosso é a Central Estadual de Transplantes, uma unidade executiva do Sistema Nacional de Transplantes, que está inserida no Organograma da Secretaria de Estado de Saúde, através da Coordenadoria de Transplantes da Ses.
Como funciona
A família manifesta a vontade de doar á equipe do hospital que inicia avaliação do possível doador, através da avaliação clinica e física, exames laboratoriais, e o fechamento do protocolo de morte encefálica para validação.
A captação de órgãos e tecidos é um processo complexo, que depende de vários fatores desde a condição clínica do doador, a viabilidade de cada órgão, a existência de um receptor compatível como também o tempo de isquemia (tempo entre a retirada e o implante) o que leva em consideração a localização do doador e do receptor compatível.
Dessa forma quanto mais distante de centros de transplante, mais complexo fica o processo, considerando que o estado de MT, no momento, não dispõe de equipe autorizada para a retirada e transplante a efetivação da captação de órgãos fica comprometida, mas havendo disponibilidade de equipes a nível nacional e o doador não apresentar contraindicações, todos os órgãos e tecidos doados, podem ser retirados e disponibilizados a Central Nacional de Transplantes. O Ministério da Saúde tem criado estratégias para minimizar essas dificuldades, como a disponibilidade de aviões da FAB para o atendimento desses processos.
De acordo com a Coordenadoria geralmente as doações são mais incidentes por jovens, vitimas de acidentes automobilísticos e ferimentos por arma de fogo. Os receptores de órgãos e tecidos são selecionados de acordo com os critérios estabelecidos para cada órgão e ou tecido determinado em legislação.
A Ses também explicou que existem dois tipos de doação: Doador Vivo e Doador Falecido.
Doador vivo: qualquer pessoa saudável que concorde com a doação, desde que não prejudique sua própria saúde. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão. Pela lei, parentes até quarto grau e conjugues podem ser doadores; não parentes, somente com autorização familiar.
Doador falecido: são pacientes com morte encefálica, geralmente vítimas de lesões cerebrais, como traumatismos cranianos ou AVC (derrame cerebral). O doador falecido pode doar: coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córneas, veias, ossos e tendões. Portanto um único doador pode salvar inúmeras vidas.
A doação de órgãos de pessoas falecidas somente acontecerá após a confirmação do diagnóstico de morte encefálica. Geralmente, são pessoas que sofreram um acidente que provocou traumatismo craniano ou sofreram acidente vascular cerebral (derrame) e evoluíram para morte encefálica.