Amazonas
Narcotráfico, piratas e conflitos de terras: problemas marcam região de distritos indígenas do AM que seguem sem médicos
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Em um Dsei, somente cinco vagas foram preenchidas. São 22 vagas em aberto. Outro, também em região remota, foi o único local do país a não receber adesão no Mais Médicos.
O Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Alto Rio Solimões é o local do país com mais vagas não preenchidas do Mais Médicos. Esse distrito indígena concentra 20,8% das 106 vagas remanescentes do programa. São, no total, 22 em aberto. Localizado em área de extrema pobreza do país na tríplice fronteira do Brasil, Colômbia e Peru, a região é rota do tráfico internacional de drogas e de ataques de piratas.
O Ministério da Saúde disponibilizou 27 vagas para Dsei Alto Rio Solimões após Cuba deixar o Mais Médicos. Com sede na cidade de Tabatinga, localizada a 1.108 km de Manaus, apenas cinco foram preenchidas no primeiro edital para médicos brasileiros. Outras 22 não receberam adesão.
O Dsei Alto Rio Solimões localiza-se às margens do rio de mesmo nome e ao norte do estado do Amazonas. Para chegar até a cidade, os únicos meios de transporte disponíveis são aéreos e fluviais. A viagem de barco pelo Rio Solimões até a sede do município pode demorar até sete dias, dependendo se é período de cheia ou vazante (seca) do rio.
Área do porto de Tabatinga — Foto: Adneison Severiano/G1 AM
Atendimento indígena
Além de Tabatinga, o Dsei Alto Rio Solimões abrange outras seis cidades – Amaturá, Benjamin Constant, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença e Tonantins. Lá, médicos atendem índios de sete etnias diferentes. Eles vivem distribuídos em 234 aldeias.
O distrito indígena conta 12 polos base para o atendimento dos indígenas. Os polos são as primeiras referências para as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) que atuam nas aldeias e cada polo base cobre um conjunto delas. O Dsei Alto Rio Solimões tem ainda uma Casa de Saúde do Índio (Casai).
Mapa mostra os distritos indígenas mais vulneráveis do Amazonas — Foto: Karina Almeida e Roberta Jaworski/ Arte G1
Região marcada por fragilidades
Tabatinga e a região do Alto Solimões são marcadas pela criminalidade. A região é uma das grandes rotas do tráfico de drogas internacional, por onde criminosos transportam grandes quantidades de entorpecentes pelo Rio Solimões. Da fronteira, as drogas são levadas para Manaus, depois distribuídas na capital e para outras regiões do Brasil e até enviadas para outros países. Tabatinga, centro dessa região, é diretamente afetada pelo clima hostil.
Embarcações são atacadas por piratas no Rio Solimões — Foto: Arquivo Pessoal/Greicy Fernandes
Esses criminosos que atuam nos rios e são conhecidos na região como piratas já fizeram inúmeras vítimas no Solimões. Roubos, furtos e até assassinatos são crimes cometidos com uso de embarcações rápidas e de forte armamento. Os piratas atacam outras embarcações e chegam a entrar em confronto com a polícia.
Apesar das fragilidades, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) afirma que existe efetivo policial atuando na região.
“Existe um trabalho integrado lá com a Prefeitura de Tabatinga e com as Forças Armadas na Operação Fronteira Segura. Não estava tendo esse problema anteriormente e não sei porque cargas d’água estamos tendo agora. Estamos aí, prontos para dar resposta caso seja necessário”, declarou o coronel Amadeu Soares, secretário de Segurança Pública, questionado sobre a instabilidade na região.
Economia
Tabatinga e as outras cidades da região sobrevivem do pequeno comércio, mas, principalmente, do repasse de recursos do Estado e da União.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Tabatinga é de 0.616. Menor ainda são os IDHs de Santo Antônio do Içá (0.490), São Paulo de Olivença (0.521), Tonantins (0.548), Amaturá (0.560) e Benjamin Constant (0.574), que são municípios que integram o Dsei Alto Rio Solimões.
O IDH é um índice medido anualmente pela ONU e utiliza indicadores de renda, saúde e educação, variando de 0 a 1 – quanto mais próximo de um, mais desenvolvida é a cidade.
Distrito Indígena sem nenhum inscrito
Em outra região do Amazonas, que abrange os municípios de Lábrea e Tapauá, no Sul do estado, funciona outro distrito especial indígena. Foram ofertadas sete vagas para médicos no Dsei Médio Rio Purus e nenhuma delas foi preenchida na primeira etapa do edital do Mais Médicos.
Um dos fatores que podem ter afastado os médicos de Lábrea é a instabilidade entre povos indígenas e demais habitantes da região. Entenda o por quê:
- A cidade é palco de conflitos armados e alvo da grilagem de terras.
- O estopim para cenário de instabilidade foi assassinato de três homens nas proximidades da Rodovia Transamazônica, em dezembro de 2013. Um grupo de índios da etnia Tenharim é acusado de matar os três amigos que viajavam pela rodovia e cruzaram a reserva indígena.
- Lá, em área cercada por campos de pastagem, fazendeiros e madeireiros queimaram casas em uma aldeia.
Aldeia dos índios Tenharim, em Humaitá, no Sul do Amazonas — Foto: Larissa Matarésio/G1 AM
Em dezembro do ano passado, três agricultores do Movimento Sem Terra (MST) desapareceram na divisa entre Rondônia e Amazonas. O ex-brigadista do Instituto Chico Mendes, Flávio Lima de Souza; a vice-presidente da associação de moradores da zona rural Marinalva Silva de Souza e o sitiante Jairo Feitosa Pereira estão desaparecidos na selva, na região do Distrito de Açuanópolis, no município de Canutama, a 615 km de Manaus e que faz limite com Lábrea. Dois fazendeiros são suspeitos de envolvimento de sumiço dos agricultores.