Religião
Onde foi que nos perdemos? – Por Hélio Roberto
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“Para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele”. 1 Co 12:25,26.
Ao observar a situação de algumas Igrejas, pus-me a refletir sobre onde foi que nos perdemos. Estamos inseridos em um sistema religioso que, não raramente, simplesmente ignora o que diz a Palavra de Deus. Sou um entusiasta da Igreja, mas isso não significa que não devamos corrigir o que está errado, e olha que os exemplos não são poucos.
Quero me ater, neste breve artigo, ao completo descaso da Igreja (falo em sentido amplo) à situação de calamidade que muitos de seus membros vivem. O que mais me deixa preocupado é que a origem disso tudo está no coração, ou seja, é a falta de amor e de priorização do ser humano em função do acúmulo de riquezas que faz, em muitos casos, que a Igreja (liderança e membresia) simplesmente ignore a necessidade dos irmãos.
Que evangelho é esse que simplesmente faz de conta que o irmão ao lado não está passando por terríveis necessidades? Que evangelho é esse que traz padrões desse mundo para auferir qual irmão deve ser ajudado e qual não deve? Que evangelho é esse em que as contas bancárias das Igrejas estão cada dia mais cheias e barriga de seus membros cada dia mais vazias? Que evangelho é esse em que o dinheiro se transformou num deus para muitos líderes? São perguntas que eu tenho me feito…
As Escrituras Sagradas dizem que na Igreja Primitiva (modelo deixado por Jesus) todos distribuíam suas riquezas aos Apóstolos e não faltava nada a ninguém. Veja: “Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.” At 4:34, 35
O modelo da Igreja primitiva era o de entregar aos líderes doações e valores de modo que aqueles que padeciam necessidades pudessem ser supridos com responsabilidade pela liderança levantada por Deus. Hoje, continua-se depositando bens e valores aos pés das lideranças, mas, infelizmente, tem-se distribuído pouco dentre os membros que sofrem necessidades básicas.
O foco, hodiernamente, passou a ser templos e quantidade de membros, infelizmente! Todavia, de que adiante uma Igreja com 2.000 membros, se os 100 que lá estavam já não eram supridos em suas necessidades? Creio que o Senhor Jesus ficaria muito mais feliz com o cuidado dos 100, do que com 2.000 que não veem o amor da Igreja em suas necessidades.
A Palavra de Deus deixa claro que desagrada ao Senhor aquele que possui bens e, vendo seu irmão necessitado, nada faz. Esse texto é claríssimo: Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. 1 Jo 3:17,18.
Esse texto deixa transparente que o amor de Deus não está no coração daqueles que tendo posses não ajudam seu irmão necessitado, e eu penso que essa também é uma obrigação da Igreja (como centralizadora dos recursos). É que, segundo apregoa a Palavra de Deus, não é o seu tempo de crente, ou a altura do seu aleluia, ou os dons que você exerce, tampouco a quantidade de membros de sua Igreja, ou mesmo quantas vezes você leu a Bíblia que evidencia o amor de Deus em você, mas sim o amor e cuidado pelo pequenino, evidenciado pelo compartilhar aquilo que Deus nos deu (porque foi Ele quem deu) com os mais necessitados, às vezes despercebidos, sentados no banco ao lado em nossas Igrejas.
Há sempre a justificativa de que a situação que o irmão está passando é responsabilidade dele, e não da Igreja. Talvez seja verdade, mas com toda certeza isso em nada exime a obrigação, diante de Deus, que a Igreja tem de suprir as necessidades dos seus membros. São tantas as obrigações administrativas e financeiras que já não se prioriza mais o cuidado aos irmãos. Sem nenhuma hipocrisia (é muito bom ter Igrejas com estruturas confortáveis), mas será que não agradaria muito mais ao Senhor Jesus destinar o dinheiro da Igreja aos membros necessitados, ainda que para tal fosse necessário congregar debaixo de uma tenda ou até mesmo reduzir os gastos com a estrutura da Igreja (reduzir aluguéis, quantidade de funcionários, ir para um local menor, mais barato ou em um bairro mais acessível) de modo que sobrasse recursos para suprir os irmãos necessitados? Penso veemente que Jesus está muito mais interessado nas pessoas (seus filhos, sua verdadeira Igreja) do que com estruturas. Infelizmente, muitos não conseguem ver isso!
Respondendo à pergunta que levou o título desse artigo: Onde foi que nos perdemos?
Nós nos perdemos quando nosso coração deixou de amar e passou a buscar seus próprios interesses, sejam eles quais forem. Nos perdemos quando a cifra bancária passou a ser mais importante que o irmão ao lado, com barriga vazia e ameaçado de despejo ou doente precisando de recursos para o tratamento. Nos perdemos quando a quantidade de membros passou a ser o objetivo-mor de nossas Igrejas, e não o cuidado dos que lá estão. Nos perdemos quando passamos a ler a Bíblia de forma seletiva, vivendo apenas o que nos agrada. Nos perdemos em meio a motivações mundanas que inundam nossos corações, cegam nossos olhos e enegrecem nossas almas, de modo que a dor de nossos irmãos já não nos afeta mais.
Que nosso Senhor Jesus nos ressuscite e traga o Seu amor para dentro de nós, de maneira que a dor de nossos irmãos seja a nossa dor, e a alegria de nossos irmãos seja a nossa alegria!
Graça e Paz!