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Saúde indígena perderá 35 médicos em Mato Grosso com a saída de cubanos


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A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) perderá 301 dos seus 372 médicos com o fim da participação cubana no programa Mais Médicos, ou 81% total. Para especialistas, o êxodo repentino colapsará o atendimento ao segmento da população com alguns dos piores índices de saúde do país.

Mato Grosso será o segundo estado mais afetado, pois possui 35

médicos cubanos alocados em Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs). O Amazonas é o que reúne o maior número (78), seguido por Mato Grosso (35), Pará e Roraima, ambos com 26 cada um. Os cubanos estão espalhados em áreas indígenas por 19 estados.

“Salvo por algumas terras indígenas relativamente próximas de cidades, nunca se conseguiu superar o vazio assistencial médico, em particular na Amazônia. Tal lacuna só foi parcialmente superada com a implantação do Mais Médicos. Agora, retornaremos ao nível anterior de desassistência”, afirma a médica sanitarista e antropóloga Luiza Garnelo, pesquisadora da Fiocruz no Amazonas.

“O problema é particularmente grave quando sabemos que o perfil de morbimortalidade indígena é um dos piores do país. Para todos os perfis de saúde para os quais dispomos de algum dado, os indicadores encontrados para a população indígena são os piores”, afirma a pesquisadora.

Entre as estatísticas mais graves, Garnelo cita níveis elevados de anemia materna e taxas de mortalidade infantil até 20 vêzes maior do que a de crianças não indígenas. Dados obtidos pela BBC via Lei de Acesso à Informação mostram que 419 crianças indígenas de até 9 anos morreram de desnutrição entre 2008 e o início de 2014.

O número representa 55% dos óbitos por esse motivo no país durante o período, apesar de os índios serem somente 0,4% da população. A pesquisadora diz que, apesar de a Sesai não disponibilizar dados epidemiológicos, não há dúvidas de que os cubanos tiveram um impacto positivo na saúde indígena, pese problemas de logística e de infraestrutura para o atendimento.

“Entretanto havia uma resposta do estado no atendimento a esses povos. Agora, por razões que só posso qualificar como fúteis e insensíveis, de um governo que ainda nem assumiu e já provoca tamanho destroço na vida dos cidadãos, ocorre uma saída precipitada e sem qualquer planejamento de tão grande número de profissionais, sem qualquer substituição efetiva à vista.”

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