Saúde
Câncer de estômago ganha primeiro tratamento dentro da imunoterapia
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O tipo mais comum de câncer de estômago, o adenocarcinoma gástrico, é bastante estudado e, mesmo assim, ainda é difícil eliminá-lo de vez do organismo. Agora, um novo medicamento foi liberado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tratar justamente os casos que não responderam à quimioterapia e outros medicamentos.
Falamos do pembrolizumabe, princípio ativo desenvolvido pela farmacêutica MSD. O remédio faz parte do arsenal mais recente da imunoterapia, abordagem que estimula o sistema imune a atacar o próprio tumor. “O câncer cresce sem ser notado pelas células de defesa, e a imunoterapia tira essa espécie de capa de invisibilidade que recobre o tumor”, explica Ricardo Carvalho, oncologista do Hospital BP Mirante, de São Paulo.
No adenocarcinoma gástrico, esse crescimento passa ainda mais despercebido, uma vez que os sintomas são pouco específicos: enjoo, dificuldades de se alimentar, sensação de estufamento, perda de apetite… Isso é ruim, porque o diagnóstico precoce aumenta as chances de derrotar esse tumor, cuja mortalidade nos casos avançados chega a 70%, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Aí que entra o pembrolizumabe. O fármaco está indicado para tumores gástricos e gastroesofágicos (quando atingem o final do esôfago e o início do estômago) que já resistiram a dois ou mais tratamentos e carregam a molécula PDL-1, capaz de enganar o sistema imune, permitindo a proliferação do câncer. “As poucas opções de drogas que tínhamos para atuar nesse cenário eram pouco efetivas ou muito tóxicas”, comenta Carvalho. E é justamente o menor grau de toxicidade um dos grandes destaques da imunoterapia.
“Na imunoterapia, os efeitos colaterais parecem menores do que a químio, e são geralmente relacionados a uma resposta exagerada do sistema imune, como inflamações na tireoide, intestino e pulmão. Mas isso só aconteceu em 2% dos casos estudados até agora”, aponta Carvalho.
Para a bexiga
Outra aprovação recente do pembrolizumabe no Brasil é para o carcinoma urotelial, o tipo mais comum de câncer de bexiga, que atinge mais homens acima dos 65 anos e está relacionado especialmente ao cigarro. “A mortalidade desse câncer, embora relativamente pequena, manteve-se estável nos últimos anos, porque não tivemos grandes avanços no tratamento”, contextualiza Carvalho.
Até por isso, o remédio, que demonstrou resultados considerados satisfatórios nos estudos, entra no Brasil como primeira linha do tratamento. Mas apenas para indivíduos que não podem fazer a quimioterapia com cisplatina – que é a melhor tática, porém só pode ser usada por metade dos portadores desses tumores em decorrência de sua toxicidade.
Medicamento promissor
Em 2017, o pembrolizumabe recebeu aprovação nos Estados Unidos para tratar tumores de acordo com certas características biológicas independentemente da localização deles. No mesmo ano, passou a ser usado no Brasil para o tratamento do melanoma, a forma mais grave do câncer de pele, e de um tipo de câncer de pulmão.
Segundo a fabricante, há mais de 370 estudos clínicos (ou seja, com seres humanos) sendo conduzidos pelo mundo para analisar a eficácia do remédio contra 30 tipos de tumor. Na próxima edição do congresso da ASCO, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica, serão apresentados 140 trabalhos sobre o tema.