Justiça
Assista depoimento em que Alan Malouf explica bastidores de caixa 2 e confirma ciência de Pedro Taques
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O empresário Alan Malouf revelou em delação premiada esquema de caixa 2 operado na campanha de Pedro Taques (PSDB) ao Governo de Mato Grosso em 2014. A movimentação de recursos não declarados à Justiça Eleitoral era encabeçada por Julio Modesto e um grupo de empresários do qual Malouf fazia parte. Olhar Jurídico teve acesso às gravações em vídeo do depoimento prestado pelo empresário ao Ministério Público Federal. Em trecho disponibilizado abaixo, o empresário conta os bastidores do esquema e diz que Taques tinha ciência do ocorrido.
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De acordo com Alan Malouf, após a eleição governador sobrou uma dívida de campanha de R$ 7 milhões. Os empresários Marcelo Maluf, Juliano Bortoloto da Todimo, Erivelto Gasques da City Lar, Fernando Minosso e Alan Malouf assumiram o compromisso de quitar a dívida por meio de caixa 2 para Taques não ter de assumir compromissos na praça com terceiros, mas cobraram como diferença pela transação 1,5% no momento em que a dívida fosse ser quitada.
Os empresários discutiram a ideia longe do governador, mas a apresentaram para Taques pudesse aprová-la. “Se vocês puderem fazer isso pra mim, não tem nem como agradecer”, teria respondido Taques, de acordo com Malouf.
“A gente reunia na minha casa durante toda essa temporada, o Julio [Modesto] nos apresentava a conta e esses empresários sempre faziam assim, a gente listava as empresas no qual a gente ia buscar uma eventual ajuda e o Pedro dizia estou de acordo ou não estou de acordo, sempre com a concordância do Pedro e assim foi feito até o final e esse montante, cada um pagou do bolso uma parte e o Julio pagava os fornecedores no qual eu vou apresentar aqui na planilha anexa”, explica Malouf.
A preocupação para a quitação das dívidas partiu de Taques para os empresários. Somente Alan Malouf teria aportado R$ 2,5 milhões, através de ‘Caixa 2’. “Quanto aos demais empresários do grupo, os valores aportados por fora, constam na planilha que já foi juntada no anexo, já que não sabe informar com exatidão quanto cada um aportou, sendo que as informações constantes na planilha foram lançadas por Júlio Modesto, podendo existir valores que não se encontram na planilha e não é de conhecimento do Peticionante”, aponta outro trecho.
Confira aqui lista anexada ao processo mostra todos os doadores. Malouf também entregou lista com o que ficou para ser pago após o pleito eleitoral (confira aqui). Uma terceira lista mostra de arrecadação de aproximadamente R$ 7 milhões (confira aqui).
A denúncia
Em 19 de abril de 2018, foi homologado o acordo de delação premiada, firmado entre o Ministério Público Federal e Alan Ayoud Malouf, com a finalidade de obter elementos de prova contra os investigados na Operação Rêmora, conduzida pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso.
No requerimento de homologação do acordo, o Ministério Público Federal esclareceu que o relator revelou dados de um esquema de arrecadação de verbas, captadas mediante a doação de empresários, e a formação de chamado caixa dois, destinadas à campanha eleitoral de Pedro Taques ao Governo do Estado de Mato Grosso, em 2014.
Segundo asseverou, o retorno aos doadores consistiria na celebração de contratos, regulares ou não, com o Estado de Mato Grosso. O MPF também destacou a existência de vinte cadernos anexados ao acordo de colaboração premiada, nos quais está descrita a interlocução do delator com o governador e outras autoridades que detêm a prerrogativa de serem processadas no Superior e no Supremo, entre elas o deputado federal Nilson Leitão.
Malouf ainda apontou um esquema de desvio de recursos públicos, por meio de fraudes a licitação, no âmbito da Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer de Mato Grosso, durante a gestão do então secretário Permínio Pinto Filho.
Outro lado
Confira abaixo a íntegra da nota emitida pela assessoria do governador Pedro Taques:
Conforme já declarado desde 2016, o governador Pedro Taques nega a prática do chamado “Caixa 2” em sua campanha eleitoral ao Governo de Mato Grosso em 2014 e tampouco autorizou vantagens indevidas a qualquer empresa durante o exercício do mandato. Apesar de citado por delator em acordo de delação premiada, Taques não é réu no processo da chamada “operação Rêmora” e terá direito a ampla defesa nos autos. O governador já constituiu advogados para atuar no processo e garantir que a verdade prevaleça.