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Autocuidado é essencial para criar filhos felizes e saudáveis


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Toda vez que eu entro em um avião e ouço as orientações de segurança, fico imaginando o que faria se aquelas máscaras de oxigênio caíssem na minha frente. As orientações são claras: coloque primeiro a máscara em você mesmo e só então ajude outras pessoas.

Entendo o recado, mas — bem lá no fundinho dos meus pensamentos — imagino que se meus filhos estivessem ao meu lado eu não conseguiria socorrer a mim mesma sem antes colocar a máscara neles.

Um pai de paciente que é piloto, e portanto familiarizado com essa questão, me disse que não sabe porque é tão difícil entender que para salvar alguém a gente precisa estar vivo, bem e consciente, e quem não coloca a máscara sentirá a falta de oxigênio do avião despressurizado em 18 a 20 segundos.

Ou seja, se eu tivesse alguma dificuldade para colocar a máscara em um dos meus dois filhos eu poderia perder a consciência antes de colocar em mim mesma e este cenário me pareceu mais terrível ainda.

Autocuidado na Medicina

Essa reflexão veio ao encontro com um conceito que é cada vez mais difundido no meio médico: o autocuidado.

Estudos internacionais demonstram que os médicos que “se cuidam”, ou seja, aqueles que consideram que têm uma boa qualidade de vida, se sentem mais felizes com a profissão e mais motivados a ajudar seus pacientes.

Estar bem consigo mesmo melhora a empatia, ou seja, facilita a habilidade de “colocar-se” no lugar do outro e, assim, estabelecer uma parceria em busca de mudanças.

A teoria da psicologia positiva reforça que o excesso de trabalho exige a contrapartida de atividades de lazer e relaxamento, ou seja, quanto mais trabalhamos, mais deveríamos investir nas relações pessoais e nos momentos de lazer, mas o que vemos é o contrário. Muitos médicos se sentem constrangidos quando dizem que estão viajando de férias ou que estão em horário de almoço.

Como resultado, o excesso de trabalho deixa os profissionais tão exaustos que a maioria usa as horas vagas para descansar e não para se divertir ou se relacionar.

“Pais felizes criam crianças felizes e saudáveis”

Em minha prática pediátrica, diariamente atendo famílias que se sentem dentro de um avião despressurizado em pleno voo, mas nem de longe imaginam que “colocar a máscara em si mesmo primeiro” pode ser o primeiro passo para ajudar as crianças e a família toda.

Os pais imaginam que só podem parar para olhar e cuidar de si mesmos se tudo estiver perfeito com as crianças primeiro. Minha missão do dia a dia é ajudá-los a inverter as prioridades, simplesmente porque pais felizes são o primeiro passo se o objetivo é criar filhos felizes.

Recentemente, um estudo inglês mostrou que mães que têm bons hábitos de vida reduzem drasticamente a chance de as crianças serem obesas no futuro. Parece óbvio que os pequenos aprendam hábitos com os pais, mas a maioria deles prefere investir diretamente na criança ao invés do autocuidado.

Na prática, não é difícil perceber que as crianças fazem o que gente FAZ e não o que a gente FALA e que o poder do discurso é muito menor do que o poder do exemplo.

Perdi a conta do número de consultas em que minhas condutas pediátricas foram de acolhimento e motivação para os pais. Com suas “máscaras de oxigênio”, muitos deles conseguem pousar o avião e sair para um passeio lindo e de grandes descobertas.

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