Religião
Luta e Vitória: Lições da vida de Jacó
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A transformação de Jacó
Continuando a analisar os pontos sobre o reencontro de Jacó com Esaú, observamos que a cruz quer nos separar daquilo que nos aprisiona: das posses, da honra, do dinheiro e bens e até da família – “E Jacó ficou sozinho” (Gn 32.24a). Todavia, o Senhor operou algo ainda mais profundo em Jacó. Aqui vemos claramente a sua sexta ação. Por que Jacó ficou só? Justamente para que ele não precisasse ficar; afinal, quem não quer ficar sozinho sempre ficará a sós. Mas quem for abandonado nunca estará a sós. Quem conseguir compreender, que o compreenda. Pois o texto continua imediatamente: “E Jacó ficou sozinho. Então veio um homem que se pôs a lutar com ele até o amanhecer”. Esta foi a sexta ação que o Senhor operou em Jacó: o próprio Deus se revelou a ele.
Teria sido mais fácil para o Senhor simplesmente atender à oração de Jacó e condicionar Esaú a perdoar, de modo que a situação toda estivesse novamente resolvida. Mas o Senhor desejava muito mais do que apenas livrar Jacó de suas dificuldades. Ele desejava se revelar a ele. “Então veio um homem que se pôs a lutar com ele.” Filho(a) de Deus que clama: “Senhor, livra-me de todos esses problemas!”, saiba que o Senhor tem um interesse maior do que apenas libertar você dos problemas. Ele deseja se revelar a você nesses problemas, libertando-o, por um lado, com muito sofrimento das coisas criadas, mas, por outro lado, ligando-o mais firmemente ao coração dele. “Então veio um homem que se pôs a lutar com ele.”
Com isso alcançamos a sétima e mais profunda ação do Senhor em Jacó. Aqui temos a essência da mensagem, ou seja: o Senhor começou a eliminar a força própria de Jacó. Precisamos observar que o texto não diz: “Jacó se pôs a lutar contra um homem”, mas: “Então veio um homem que se pôs a lutar com ele”. O Senhor apareceu no caminho de Jacó quando este ficou sozinho, e começou a lutar contra ele com o objetivo de quebrar sua vontade própria, sua carne e sangue, o potente ego.
A luta de Jacó naquela noite precisa ser considerada em duas fases, conforme lemos, por exemplo, em Oseias 12.3: “… como homem lutou com Deus”. Jacó se opôs a Deus com suas próprias forças, negando a total reivindicação do Senhor sobre a sua vida. Ele se portou valorosamente em sua luta, pois vemos a afirmação poderosa e incompreensível do Senhor, que lutou contra ele naquela noite: “Quando o homem viu que não poderia dominar Jacó…” (Gn 32.25).
É chocante quando observamos como a santa Majestade, o onipotente Deus, respeita a vontade da pessoa e como ele mesmo constata: “Se essa vontade não permite se dobrar e quebrantar, eu não a domino”. Aqui também se encontra o meu tremor em relação a muitas pessoas crentes. Naturalmente você é um “Jacó”, um abençoado; mesmo assim, o Senhor até agora não lhe “dominou”, ainda não conseguiu conduzir a sua vontade própria à capitulação, à submissão. “Quando o homem viu que não poderia dominar Jacó…” Que palavra terrível! Com sua força Jacó lutou com Deus.
Há quanto tempo você se opõe a Deus com suas forças? Há quanto tempo você, com a vontade própria de sua carne e sangue, se opõe à exortação e aos convites do Espírito Santo? Você não está vendo como a noite se aproxima de sua vida? Você não vê “Esaú” o assaltando? “Então veio um homem que se pôs a lutar com ele.” Veja bem: justamente você, irmão, irmã, obreiro, vocês são esse Jacó! Deus está falando com vocês! “Quando o homem viu que não poderia dominar Jacó…” É isso que ele precisa constatar a respeito da sua vida?
Graças a Deus houve também uma segunda fase nessa luta. No versículo 25 lemos: “Quando o homem viu que não poderia dominar Jacó, tocou-lhe na articulação da coxa, de forma que a deslocou enquanto lutavam”. O que significa isso? O Senhor destruiu a força humana de Jacó, sua região lombar. E o forte, orgulhoso e autossuficiente Jacó desmoronou e quebrou. Quando, ao final, ele estava como um mísero montinho aos seus pés, o Senhor lhe disse: “Deixe-me ir, pois o dia já desponta” (v. 26).
Começou ali a segunda fase dessa batalha noturna. Não era mais o homem que lutava, mas Jacó começou a lutar. Ele se pendurou ao pescoço do seu Deus, e ele clamou, gritou, chorou e soluçou. E essa luta culminou num grito – enquanto se agarrava em Deus, que pretendia ir embora: “Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes” (v. 26). Essa segunda fase da luta de Jacó também está descrita em Oseias 12. A primeira fase foi: “… como homem lutou com Deus” (v. 3). A segunda fase é: “Ele lutou contra o anjo e saiu vencedor; chorou e implorou o seu favor” (v. 5). Ali – em sua fraqueza – ele se tornou poderoso. Ali – em sua miséria – ele se tornou um príncipe, um príncipe de oração: “Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes”.
O Senhor o abençoou imediatamente? Não. Ele perguntou: “Qual é o seu nome?” (Gn 32.27). Por que o Senhor perguntou o nome dele? Porque, há muitos anos, esse Jacó ouviu a mesma pergunta sendo feita pelo seu idoso e cego pai, e ele tinha respondido: “Sou Esaú…” (Gn 27.18-19). E, agora, nessa noite, ele confessou chorando: “Jacó” (que significa “enganador”). Assim, ele mencionou nominalmente o seu pecado. Então o Senhor o abençoou, transformando Jacó em Israel; de enganador em um príncipe de Deus. Deus deu a ele um novo nome. E o efeito disso? De Peniel saiu um Jacó que mancava, e o sol nasceu num novo céu sobre ele. Os seus olhos ficaram diferentes, pois ele disse: “Vi a Deus face a face…” (v. 30).
Seu coração estava renovado, pois ele testemunhou: “… minha vida foi poupada” (Gn 32.30). Seu relacionamento com Esaú mudou, pois ele conseguiu se curvar diante de seu irmão. No entanto, o efeito profético foi ainda maior: Jacó foi transformado em Israel, e em Israel nasceu Jesus; em Israel Jesus morreu e ressuscitou; em Israel Jesus subiu ao céu; e em Israel ele voltará.
Ó filho(a) de Deus! Em espírito posso ver esse Homem. Quem era esse Homem com quem Jacó lutou? Ele não quis revelar o seu nome a Jacó. Naquela ocasião, esse nome ainda não havia sido revelado: era Jesus Cristo. Deus em Jesus, que também fala agora com você. Você não se dispõe a ser quebrantado, para que você também – tomado por sua própria fraqueza – se torne um príncipe de oração e confirme essa sua nova orientação com esta vitoriosa oração: “Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes”?