Geral
Abandono acaba em amputação no Hospital Pedro II
Compartilhe:
Sem conseguir um acompanhamento adequado do diabetes na clínica da família, a pensionista Jandira Felipe da Costa Antunes, de 71 anos, foi internada no último dia 3 no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, por causa de uma ferida no pé que não cicatrizava. No dia seguinte, teve dois dedos amputados. Segundo a família da idosa, a revisão da cirurgia só aconteceu 16 dias depois, quando o médico descobriu que a infecção havia evoluído, e o pé da paciente teria que ser amputado.
Problemas de atendimento vêm se repetindo, em função de equipes médicas desfalcadas e com alto índice de faltas. Na semana passada, os funcionários receberam apenas 35% do salário de julho e muitos já não têm dinheiro para ir trabalhar.
— O cirurgião vascular só apareceu 16 dias após a amputação e porque o familiar de um paciente que está na mesma enfermaria da minha mãe percorreu o hospital e trouxe o médico até aqui. O cirurgião viu o pé da minha mãe e disse que a infecção havia avançado muito e teria que amputar o pé. Depois disso, passou mais uma semana e nada foi feito — conta a filha de Jandira, Ana Maria da Costa, de 40 anos.
De acordo com o cirurgião vascular Jackson Caiafa, da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro, a equipe que operou deve rever o curativo no dia seguinte à cirurgia:
— Até que a cicatrização esteja avançada, o curativo deve ser visto diariamente pela equipe de cirurgia vascular.
Após Ana Maria procurar a imprensa ontem, a direção do hospital avisou que Jandira seria operada, mesmo sem o exame de arteriografia de que precisava antes da cirurgia.
— Mas depois disseram que ela iria fazer o exame no Instituto Estadual de Cardiologia, no Humaitá. Ela foi e voltou sem fazer nada, porque está usando um remédio que deveria ter sido suspenso dois dias antes do exame. O médico não sabia disso? Mais uma vez, nada foi resolvido — diz Ana.
Pacientes amarrados em macas
O abandono dos pacientes, em função de equipes médicas e de enfermagem desfalcadas e com alto índice de faltas, é denunciado por profissionais de saúde que, mesmo com o salário de julho atrasado, ainda estão indo trabalhar:
— Os pacientes estão abandonados. Temos feito até mais do que podemos, colocando nossa saúde e nosso registro profissional em risco. Na sala vermelha, onde estão pacientes graves, tenho feito plantão com apenas mais um técnico de enfermagem, cuidando de mais de 30 pacientes — diz uma profissional de enfermagem que pediu anonimato.
O cenário desse descaso choca até quem trabalha ali:
— Cheguei ao plantão e encontrei uma senhora com metástase sentada numa cadeira. Havia passado a noite ali, toda urinada.
No pátio do Pedro II, há caixas com camas hospitalares novas, sem uso. A Secretaria municipal de Saúde (SMS) informou que as 35 camas foram entregues esta semana para substituir as antigas.
Sobre o caso de Jandira, a SMS afirmou que, “no pós-cirúrgico, apesar da medicação e tratamento recebido, o problema vascular progrediu para o pé e foi solicitada pelo Sistema Estadual de Regulação vaga para arteriografia”. Com o resultado exame, a SMS afirma que será definida a melhor conduta terapêutica.