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“O Brasil precisa olhar para o setor de logística urgentemente” – Por Gabriel Brito


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No pri­meiro dia do mês, foi pu­bli­cada Me­dida Pro­vi­sória que re­nova o sub­sídio ao com­bus­tível, após a po­de­rosa greve de­fla­grada pelos ca­mi­nho­neiros em junho. Cal­cula-se que o custo será de 30 bi­lhões de reais até o fim de 2018, quando o ter­mina o man­dato de Mi­chel Temer. Em en­tre­vista ao Cor­reio, Wla­dimir Salles, en­ge­nheiro me­câ­nico e es­pe­ci­a­lista em lo­gís­tica de trans­portes, co­menta a me­dida e os gar­galos bra­si­leiros em tudo que tange ao setor.

“O im­pacto será um au­mento no dé­ficit das contas do go­verno, pois os 30 bi­lhões terão de ser pagos pelo te­souro. Outro risco é que o sub­sídio acabe sendo re­pas­sado para os preços, via in­flação. O re­sul­tado prá­tico, em minha opi­nião, será do au­mento da in­cer­teza ju­rí­dica para o setor de trans­portes, po­dendo acar­retar a de­te­ri­o­ração das re­la­ções entre em­presas trans­por­ta­doras e ca­mi­nho­neiros autô­nomos”, ana­lisou.

Ao longo da con­versa, o pro­fessor da FGV-RJ e co­autor do livro Gestão de lo­gís­tica, dis­tri­buição e trade mar­ke­ting des­taca a ur­gência em re­pensar todo o mo­delo de trans­portes do país, em es­pe­cial sua ver­tente ro­do­vi­a­rista e ex­plica como fun­ciona aquilo que qua­li­fica de “co­mo­di­ti­zação do frete ro­do­viário”. Além disso, afirma que po­lí­ticas de maior prazo, como as que in­clu­sive constam do Plano Na­ci­onal de Lo­gís­tica, não só po­de­riam atacar o his­tó­rico atraso como ainda criar um im­por­tante ciclo econô­mico. 

“O trans­porte por fer­rovia, rios e ma­rí­timo é, com­pro­va­da­mente, menos agres­sivo ao meio am­bi­ente, em vir­tude de uma menor emissão de gás carbô­nico. A im­plan­tação de ma­lhas fer­ro­viária e hi­dro­viária, se bem pla­ne­jadas, de forma a mi­ti­garem os im­pactos am­bi­en­tais na im­plan­tação, con­ju­gadas com o trans­porte ma­rí­timo de ca­bo­tagem (re­a­li­zado ao longo da costa), traria um im­pacto po­si­tivo no as­pecto am­bi­ental e econô­mico”, ex­plicou.

A en­tre­vista com­pleta com Wla­dimir Salles pode ser lida a se­guir.

Cor­reio da Ci­da­dania: No co­meço de agosto, o go­verno re­novou o de­creto que de­ter­mina o sub­sídio do com­bus­tível de 46 cen­tavos por litro de ga­so­lina, ini­ciado por conta da greve dos ca­mi­nho­neiros. Qual o ba­lanço destes mais de dois meses de pro­grama de sub­venção?

Wla­dimir Salles: É um pro­grama de di­fícil ope­ra­ci­o­na­li­zação, pois de­pende de di­versos agentes econô­micos, como go­vernos es­ta­duais, postos de com­bus­tí­veis etc. Até o mo­mento não po­demos per­ceber o re­sul­tado prá­tico do pro­grama.

Cor­reio da Ci­da­dania: Se le­vado até o final do ano, o custo do pro­grama de sub­sídio está cal­cu­lado em 30 bi­lhões de reais. Quais im­pactos acre­dita que po­deria ter na eco­nomia bra­si­leira? Acre­dita em al­guma van­tagem neste es­forço po­lí­tico e econô­mico? 

Wla­dimir Salles: O im­pacto será um au­mento no dé­ficit das contas do go­verno, pois os 30 bi­lhões terão de ser pagos pelo te­souro. Outro risco é que o sub­sídio acabe sendo re­pas­sado para os preços, via in­flação.

O re­sul­tado prá­tico, em minha opi­nião, será do au­mento da in­cer­teza ju­rí­dica para o setor de trans­portes, po­dendo acar­retar a de­te­ri­o­ração das re­la­ções entre em­presas trans­por­ta­doras e ca­mi­nho­neiros autô­nomos. 

Cor­reio da Ci­da­dania: Qual o sig­ni­fi­cado mais amplo da greve dos ca­mi­nho­neiros, em sua visão?

Wla­dimir Salles: O Brasil pre­cisa, ur­gen­te­mente, olhar para o setor de lo­gís­tica. Não dá mais para con­vi­vermos eter­na­mente com pro­blemas de in­fra­es­tru­tura lo­gís­tica, que custam ao país muito mais que os 30 bi­lhões apor­tados no sub­sídio ao di­esel. 

Os ca­mi­nho­neiros são parte de uma en­gre­nagem, que por sua vi­si­bi­li­dade e al­guma or­ga­ni­zação, emi­tiram um grito de alerta. 

O valor do frete é apenas um dos muitos pro­blemas a serem re­sol­vidos.

Cor­reio da Ci­da­dania: Como re­cebeu a no­tícia da prisão de 8 exe­cu­tivos das três prin­ci­pais dis­tri­bui­doras de com­bus­tível do país – Pe­tro­brás, Raizen (Cosan/Shell) e Ipi­ranga -, acu­sados de com­binar o preço final do litro do com­bus­tível entre si, após ope­ração po­li­cial de­fla­grada em Cu­ri­tiba?

Wla­dimir Salles: Não tenho muitos dados a este res­peito, mas, se ver­da­deiras as afir­ma­ções de com­bi­nação de preço, é um pro­blema ge­rado pela pouca com­pe­ti­vi­dade no setor e ine­fi­ci­ência da fis­ca­li­zação dos ór­gãos com­pe­tentes.

Cor­reio da Ci­da­dania: No ano pas­sado, você es­creveu um ar­tigo sobre a “com­mo­di­ti­zação do frete ro­do­viário”. O que isso sig­ni­fica, con­si­de­rando se tratar de um de­bate es­tranho ao ci­dadão médio?

Wla­dimir Salles: Frete é um tema com­plexo, que possui ele­mentos econô­micos e téc­nicos, que in­flu­en­ciam o valor final do ser­viço. O que ocorre é que o tema vem sendo tra­tado a partir de uma visão de equi­dade. Ou seja, os to­ma­dores do ser­viço (em­bar­ca­dores) tendem a tratar o as­sunto como sendo sempre igual, bus­cando sempre o menor valor final, sem con­si­derar as di­versas par­celas com­po­nentes do ser­viço, o que gera um acha­ta­mento no valor pago.

Cor­reio da Ci­da­dania: Como ana­lisa o ro­do­vi­a­rismo bra­si­leiro a esta al­tura dos acon­te­ci­mentos? 

Wla­dimir Salles: A crise vi­vida no modal ro­do­viário, da qual a questão do frete é a ponta do ice­berg, é fruto da opção er­rada do uso ma­jo­ri­tário deste modal, para des­lo­ca­mento de cargas a longa dis­tância, em de­tri­mento de ou­tros mo­dais, mais ade­quados a este tipo de ope­ração, como o aqua­viário e fer­ro­viário.

A con­sequência é que hoje o ca­mi­nhão é visto como um pro­blema pela so­ci­e­dade.

Cor­reio da Ci­da­dania: Há um des­do­bra­mento am­bi­ental re­le­vante neste mo­delo? 

Wla­dimir Salles: Sim, e muito grande. O trans­porte por fer­rovia, rios e ma­rí­timo é, com­pro­va­da­mente, menos agres­sivo ao meio am­bi­ente, em vir­tude de uma menor emissão de gás carbô­nico.

A im­plan­tação de ma­lhas fer­ro­viária e hi­dro­viária, se bem pla­ne­jadas, de forma a mi­ti­garem os im­pactos am­bi­en­tais na im­plan­tação, con­ju­gadas com o trans­porte ma­rí­timo de ca­bo­tagem (re­a­li­zado ao longo da costa), traria um im­pacto po­si­tivo no as­pecto am­bi­ental e econô­mico.

Cor­reio da Ci­da­dania: Você diz no ar­tigo que para a mai­oria das em­presas que vive do frete ro­do­viário os atuais custos do ser­viço são in­viá­veis. Além da pre­ca­ri­zação da vida do ca­mi­nho­neiro, isso gera con­sequên­cias aos con­su­mi­dores dos pro­dutos por eles trans­por­tados? 

Wla­dimir Salles: O im­pacto é em toda a so­ci­e­dade, pois temos uma frota com idade média avan­çada, cir­cu­lando pelas ro­do­vias e cen­tros ur­banos, au­men­tando o risco de aci­dentes e di­mi­nuindo a qua­li­dade do ser­viço pres­tado.

Cor­reio da Ci­da­dania: Quais as so­lu­ções para um mo­delo de pro­dução e dis­tri­buição mais ba­rato e sus­ten­tável?

Wla­dimir Salles: A re­or­de­nação dos mo­dais de trans­porte, para re­a­de­quar o papel do modal ro­do­viário, que deve ser o in­te­grador entre os de­mais.

Outro ponto é a efe­ti­vação do Plano Na­ci­onal de Lo­gís­tica e Trans­portes (PNLT), no qual são de­fi­nidos um con­junto de ações de me­lhoria da in­fra­es­tru­tura lo­gís­tica bra­si­leira e a re­visão da ma­triz de trans­portes.

Cor­reio da Ci­da­dania: Tal re­or­ga­ni­zação po­deria in­clu­sive ser uma boa fonte de saída para a crise econô­mica que já leva anos e não dá si­nais de es­go­ta­mento, não? 

Wla­dimir Salles: Sim, po­deria. Equi­li­brar a ma­triz modal de trans­portes, no caso bra­si­leiro, sig­ni­fica, entre ou­tras ações, au­mentar a rede atual (ex­tensão em quilô­me­tros) e a oferta (ca­pa­ci­dade) de ser­viços fer­ro­viá­rios e aqua­viá­rios, o que em ou­tras pa­la­vras quer dizer exe­cução de obras e con­se­quen­te­mente ge­ração de postos de tra­balho for­mais.

Cor­reio da Ci­da­dania: Acre­dita que os de­bates elei­to­rais po­derão sa­tis­fazer os pontos aqui co­lo­cados?

Wla­dimir Salles: O tema não apa­rece nas dis­cus­sões pre­li­mi­nares do de­bate elei­toral, o que é ex­tre­ma­mente pre­o­cu­pante, pois além dos nossos pro­blemas in­ternos, temos com­pro­missos am­bi­en­tais as­su­midos in­ter­na­ci­o­nal­mente, que são di­re­ta­mente im­pac­tados pelo setor de trans­portes.

Ga­briel Brito é jor­na­lista e editor do Cor­reio da Ci­da­dania.

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