Religião
Hebreus: A superioridade de Jesus a Moises
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No último artigo o tema foi a superioridade de Cristo em relação aos anjos na epístola aos Hebreus. Esta demonstração da superioridade de Cristo em relação aos anjos, serve como introdução a outro tema de extrema importância: a superioridade de Jesus em relação a Moisés.
O autor da epístola escreveu: “assim como aquele que edifica uma casa tem maior honra do que a casa em si, também Jesus tem sido considerado digno de maior glória do que Moisés” (Hebreus 3.3). Por maior que tenha sido Moisés, sua relevância era inferior à de Cristo, o que Moisés inaugurou era inferior ao novo pacto selado por Cristo.
Ainda que Moisés tenha sido uma figura destacada no judaísmo, em Hebreus a superioridade de Jesus sobre Moisés pode ser vista, em três argumentos: o construtor é maior que a casa (3.2-4), o filho é maior que o servo (3.5-6) e a realização é maior que seu símbolo (3.5b).
A comparação entre Jesus e Moisés serve para demonstrar que eles pertencem a categorias diferentes. Jesus constrói a casa espiritual de Deus, enquanto Moisés foi apenas o servo fiel.
É possível acrescentar sob a égide do seguinte versículo: “pois toda casa é edificada por alguém, mas aquele que edificou todas as coisas é Deus” (Hebreus 3.4), uma visão espiritual de Cristo encarnado como o Logos, através de quem todas as coisas foram feitas. Portanto, Cristo, como o Filho divino, não é apenas o Soberano, mas o Construtor e Fundador da casa, logo superior a Moisés, uma vez que este não é o construtor, mas na verdade parte da edificação.
O segundo argumento está baseado na seguinte comparação: “Moisés foi fiel, em toda casa de Deus, como servo, … Cristo, porém, como Filho, é fiel em sua casa.” (Hebreus 3.5-6). Nesta passagem das Escrituras Sagradas é possível ver claramente a comparação entre Moisés como servo e Jesus como Filho.
Hebreus destaca a Jesus como um administrador da casa de Deus que à semelhança de Moisés foi fiel ao seu propósito. Moisés foi fiel ao Senhor em sua missão como libertador e como guia no deserto. Jesus foi fiel ao Pai até a morte, a fim de libertar o povo de Deus da escravidão do pecado. Contudo Jesus é digno de maior glória, porque Moisés era apenas um servo do Senhor enquanto Jesus é o próprio Filho de Deus.
Demonstrar a superioridade de Cristo sobre Moisés não era tarefa fácil. Moisés tem uma posição de extremo destaque no judaísmo, como ressaltado na citação a seguir:
Assim sendo, o autor da epístola aos Hebreus é cuidadoso em sua abordagem a Moisés e demonstra como ele foi um servo fiel. Tal cuidado ao falar de Moisés pode ser visto pelo uso da palavra servo que aqui não é usado o termo grego doulos, tão comum em outras passagens do Novo Testamento, mas o termo usado é therapon, que significa “servo livre”. Este termo somente é usado nesta passagem e refere-se a um serviço pessoal prestado gratuitamente. É uma palavra de mais ternura do que doulos, o que ressalta o cuidado do autor de Hebreus com Moisés.
Apesar do cuidado na abordagem a Moisés o autor ainda assim ressalta firmemente a superioridade de Jesus, pois “Ele não é apenas servo, mas Filho”. Não está na casa para administrá-la, e sim estabelecido acima dela como Senhor e ao mesmo tempo como seu construtor. Repetidamente a fidelidade de Cristo é mencionada e, isto serve para ressaltar sua superioridade à de Moisés, em virtude da Sua Filiação.
O terceiro argumento é baseado no seguinte texto de Hebreus: “Moisés foi fiel, em toda casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que haviam de ser anunciadas” (Hebreus 3.5). Neste texto a comparação serve para demostrar que Jesus é superior a Moisés, pois o papel de Moisés foi servir de testemunho das coisas que haviam de ser anunciadas.
Moisés deu testemunho das coisas que haveriam de vir. Jesus transformou essas coisas em realidade. Jesus é a consumação daquilo que Moisés anunciou como sombra. Enquanto temos esta ênfase que Cristo é a realização do que Moisés prenunciava, por outro lado uma vez que o ministério de Moisés foi para testemunho das coisas que se haviam de anunciar, então ele “não apenas deu testemunho quanto a verdade contida na Lei, mas prescreveu o culto simbólico em sua própria casa sob um feitio que, depois, testificaria aquele que seria mais plenamente exibido em Cristo” ((WILEY, Orton. A Excelência da Nova Aliança em Cristo: Comentário exaustivo da Carta aos Hebreu. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2008).
A vinda do Cristo é autenticada através de tudo quanto Moisés fez e disse. Aquilo que Moisés representa na história judaica não é completo em si mesmo, mas apontava para o futuro, para uma revelação mais plena de Deus num tempo posterior. Portanto, Moisés tanto em sua vida, como ministério são símbolos ou figura da realização maior que viria, isto é, Jesus.