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Big Brother espacial: veja como é feito o monitoramento de queimadas em RO


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O trabalho para frear incêndios em Rondônia é feito em conjunto. Tudo começa pelos olhos atentos dos meteorologistas que monitoram a Sala de Situação, da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental (Sedam). Eles são responsáveis por emitir relatórios diários sobre os focos registrados no estado por meio de satélites do banco de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O satélite referência do Inpe é o Aqua Tarde. O diferencial desse sistema é a detecção de pontos de fogo no período da tarde, considerado o mais quente do dia e, consequentemente, mais propício a incêndios.

“Com todos os satélites ligados, é possível se ter uma noção mais ampla da quantidade de queimadas. Mas, o ideal é se basear no referência”, conta o meteorologista Fábio Adriano Monteiro.

Ele monitora em tempo real, junto a equipe, as ocorrências. Pelos satélites, consegue ainda definir a proporção do foco e captar informações detalhadas do local, do município e do início das chamas.

“Enviamos itudo aos órgãos responsáveis. Além disso, fazemos relatórios mensais com os resultados daquele mês. Assim, é possível detectar aumento ou diminuição das queimadas de um mês a outro”, explica Fábio.

Atuação estadual: PrevFogo e Brigada Municipal

Com a chegada do relatório da Sedam, além das ininterruptas ligações com denúncias, os brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (PrevFogo) é um dos órgãos que trabalha para conter as chamas.

Ao todo, há quatro brigadas espalhadas por Rondônia, sendo uma em Porto Velho. As equipes também atendem o sul do Amazonas, além do assentamento Joana D’Arc e Nova Mamoré. O PrevFogo também atua em campos amazônicos junto ao Instituto Chico Mendes (ICMBio), que cuida de reservas e unidades de conservação.

Hélio Moreira, coordenador substituto do PrevFogo, admite necessidade de mais bombeiros para combater as chamas.  (Foto: Mayara Subtil/G1)

Hélio Moreira, coordenador substituto do PrevFogo, admite necessidade de mais bombeiros para combater as chamas. (Foto: Mayara Subtil/G1)

“Ficamos de prontidão o dia inteiro. Há rondas preventivas de manhã e principalmente na parte da tarde, período em que recebemos mais chamados. Pelo menos conseguimos inibir um pouco as ações de incêndio”, descreve Hélio Moreira, coordenador substituto do PrevFogo em Rondônia.

“Normalmente, passamos pelas linhas, onde há predominância maior de fogo. As ocorrências são maiores aos fins de semana, a partir das 10h30. Mas fazemos um trabalho de prevenção mesmo quando não há fogo”, complementa Hélio.

Entretanto, Hélio confessa que a equipe não é suficiente. São 75 brigadistas temporários, contratados por seis meses. Há mais 44 servidores que atuam apenas no Amazonas. “Trabalhamos em Rondônia inteira. Quase 120 pessoas é pouco”, lamenta Hélio.

O grupo, que também auxilia no combate às chamas, é a 1ª Brigada de Combate a Queimadas de Porto Velho. Há quatro meses na ativa, atendem quase 10 ocorrências de incêndio por dia. Em 22 dias de julho, por exemplo, já apagaram quase 100 queimadas na capital.

Porém, a tendência, segundo o coordenador, Israel Naboa, é que os números aumentem. “Rondônia está no pior ranking possível para se estar. E a tendência é aumentar as queimadas, infelizmente. Agosto e setembro são os piores meses”, lamenta.

A equipe conta com 22 bombeiros civis que atuam em escala de plantão. A brigada foi criada graças a um convênio com a Prefeitura de Porto Velho. O contrato é vigente por até oito meses. Porém, Israel Naboa luta para que a brigada continue ativa por mais tempo. E, também, para que cresça.

“O trabalho aqui é mais voltado para a prevenção. Nós não queremos encontrar queimadas por aí. Fora que 20 bombeiros é pouco. O ideal era ter três vezes mais que isso, além de três vezes mais instrumentos de combate”, confirma Naboa.

Unidades de Conservação: Kanindé

A Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé vai mais a fundo quando trata-se de incêndios. Além da prevenção, move-se pela proteção de territórios indígenas e unidades de conservação. “As áreas são invadidas, derrubadas e extintas pelas queimadas”, explica a ambientalista e presidente da Kanindé, Ivaneide Bandeira.

Kaniné luta contra incêndios em territórios indígenas e unidades de conservação. (Foto: Reprodução/Kanindé)

Kaniné luta contra incêndios em territórios indígenas e unidades de conservação. (Foto: Reprodução/Kanindé)

Ivaneide luta contra queimadas há pelo menos 25 anos. Conhecedora das matas de Rondônia, ela faz sobrevoos rotineiramente para identificar possíveis pontos de fogo. Para ela, os prejuízos que as queimadas trazem são incalculáveis.

“O estado vem destruindo os recursos hídricos com as queimadas. Essas ações prejudicam a médio prazo e trazem impactos enormes para a biodiversidade”, explica Ivaneide.

"Em cinco anos, caso continue assim, Rondônia se tornará um deserto", disse Ivaneide Bandeira.  (Foto: Reprodução/Funai.)

“Em cinco anos, caso continue assim, Rondônia se tornará um deserto”, disse Ivaneide Bandeira. (Foto: Reprodução/Funai.)

As queimadas, atualmente, acontecem mais ao norte de Rondônia. O motivo é o desmatamento desenfreado causado por pecuaristas, madeireiros e trabalhadores rurais. Questionada sobre uma projeção futura, a ambientalista garante que, caso o número de incêndios continue aumentando nos próximos cinco anos, Rondônia pode deixar de ter mata.

“Nem podemos pensar na hipótese de se tornar um cerrado, sendo que se configura em uma espécie de vegetação. Caso continue assim, Rondônia se tornará um deserto”, pontua.

Aceiros

Além da prevenção feita por órgãos responsáveis, há medidas que, ao menos, impedem a propagação do fogo, como o chamado aceiro. Ele se configura em um espaço sem qualquer vegetação, que se abre em torno de residências rurais ou até às margens de um trecho mais comum de se ocasionar incêndios.

A técnica, muito usada e útil a trabalhadores rurais, evita que os incêndios ultrapassem de um território ao outro, protegendo, assim, áreas rurais e evitando morte de animais ou danos à ecologia florestal. Segundo o chefe nacional do PrevFogo, Gabriel Constantino, o aceiro precisa ter medição mínima de três metros de largura. O tamanho depende da área total que se quer proteger.

Ele garante que não há uma medição máxima, pois o maior determinante é o tipo e o tamanho da vegetação ao redor. “Se for, por exemplo, em uma área de capins altos, entre dois a três metros de altura, talvez três metros de largura não seja suficiente”, explica.

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