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Policial civil morto deixa mulher e duas filhas pequenas
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Renato Couto, 41 anos, foi assassinado por militares da Marinha após tentar recuperar material de obra furtado; construção era para a casa da família
Renato Couto, 41, morto por militares da Marinha: amor à família, amigos e profissão foto Reprodução
Rio – Em sua última publicação nas redes sociais, o policial civil Renato Couto, 41 anos, se declarou à esposa e às filhas pequenas, de cinco e oito anos. “E Deus me confiou a missão de amá-las!”. E foi o amor que motivou Couto a tentar construir uma casa, com uma loja em cima, de onde usuários de crack furtaram janelas e outros metais, na semana passada.
“Ele soube que os usuários de crack tinham pego o material e vendido para esse dono do ferro-velho, na Praça da Bandeira. Ele foi na boa-fé, coitado, e fizeram uma emboscada. Mandaram ele retornar em outro horário, e ele foi morto”, disse um amigo, que preferiu não se identificar. O policial estava desaparecido desde sexta-feira, 13, quando foi ao local.
Couto participou da Força-Tarefa da Polícia Civil para identificar as vítimas da tragédia de Petrópolis, em fevereiro deste ano, que deixou 233 mortos, como papislocopista do Instituto de Identificação Félix Pacheco (IIFP). “Todos ficávamos comovidos com os corpos de crianças, bebês. Couto também, até por ser pai, foi bem doloroso”, contou um colega.
A sensibilidade do agente também poderia ser vista em causas sociais. Ao apoiar um projeto que conectava mulheres a bares, restaurantes e casas noturnas, ele declarou: “Como policial, filho de uma mulher, esposo de uma mulher, pai de duas meninas, irmão de três mulheres e tio de quatro meninas, nunca poderia me furtar dessa missão. Lutar pela igualdade de gênero e pelo direito da mulher ir e vir, e permanecer nos espaços que elas julgarem que devam estar!”. Negro, fez postagens procurando divulgar o combate ao racismo e explicar suas raízes estruturais.
Antes de ser policial, Couto foi militar do Exército e mantinha contato com os amigos feitos naquela época. “Irmãos que o EB (Exército Brasileiro) me deu! Não tem tempo ruim! Pode ficar meses sem se falar, mas quando nos encontramos o papo é sempre sadio e sem vaidade. As brincadeiras são para rir e descontrair, ninguém quer diminuir o outro”, escreveu na legenda de uma postagem onde aparece com os amigos.
Otimista, postava fotos em praias e sempre procurava motivar, algo que procurava aprimorar em cursos e palestras sobre start-ups e empreendedorismo. “Seja o primeiro a acreditar em seus sonhos!”, escreveu.
Por parte da Polícia Civil, as buscas estão sendo coordenadas pelo delegado Antenor Lopes, diretor do Departamento-Geral de Polícia da Capital. “Estamos empenhados em localizar o corpo do nosso policial para entregarmos à polícia e, ao menos, proporcionarmos um sepultamento digno. Nosso helicóptero está sobrevoando o Guandu nesse momento”, disse Lopes.
Em comunicado interno, o Secretário de Polícia Civil, Fernando Albuquerque, afirmou que conversou com o Vice-Almirante Vasquez, comandante do 1ºDistrito Naval, e que o oficial lhe apresentou as condolências à família e à toda Polícia Civil pelo ocorrido. “Obviamente essa ação criminosa nada tem a ver com a nossa força militar Marinha do Brasil, sendo fruto de ações isoladas e visando interesses pessoais e escusos de bandidos”, disse o secretário.
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