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Ucrânia: amor sim, ódio não.
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Por Timothy Bancroft-Hinchey*
O ódio deu início a todo este triste episódio da nossa história. Minha mãe passou por uma infância sacudindo os estilhaços de vidros dos livros escolares e escondendo-se ou saindo de debaixo de uma mesa, ditada pelo som de sirenes de ataque aéreo. A casa dela (e dos avós) foi bombardeada e se a família não tivesse mudado para o campo no dia anterior teriam morrido e eu nem estaria cá. Depois da guerra a minha mãe nunca exprimiu qualquer sentido de ódio contra Alemanha ou os alemães, cujos bombardeiros e mísseis tinham puntuado a sua infância, embora passasse o resto da sua longa vida a falar da guerra e os “Doodlebugs” (Mísseis V1) e Mísseis V2 “que eram menos assustadores porque nem se ouviam a chegar” e pouco antes de falecer no ano 2020 ela disse que Covid assustava mais porque se ouvia Doodlebug a chegar e o Covid era um monstro silencioso.
Assim, sua mente brilhante, que ela usou para ajudar tantas comunidades de forma voluntária por mais de setenta anos, foi moldada por referências à guerra. Ela, eu e muitos outros, na virada do século, pensamos que nunca mais veríamos conflito. Mas as chamas do ódio apareceram outra vez na Ucrânia em 2014, tornando partes deste país um campo de treinamento para fascistas. O Batalhão Azov marchou por aí ostentando insígnias nazistas e assassinando pessoas inocentes. Ainda há uma referência a um massacre que ainda não foi retirado da Net e que é o massacre do Prédio do Sindicato em Odessa em 2014. Provavelmente desaparecerá em breve e as pessoas responderão às referências dele dizendo “Prove, presente provas!” (que foram retiradas da Net).
Esse ódio contra os moradores de Donbass, russófonos, fez com que pegassem em armas e certamente teria moldado a decisão dos rEsidentes da Crimeia de deixar a Ucrânia e se juntar à Rússia para proteção. De fato, 57,000 refugiados fugiram para a Rússia já durante as últimas duas semanas para encontrar um pouco de paz e segurança.
Então o ódio é o contexto do que vemos hoje. O que vemos na Internet agora são postados de ódio contra a Rússia, de ódio contra os russos, referências odiosas a “Putin” e, em geral, crimes de ódio demonizando tudo o que é russo e todos os russos. Até crianças russas estão sendo sujeitos a barbárie em paises ocidentais. Mas que vergonha!
Por outro lado, nem todos os ucranianos são fascistas, nem todos os ucranianos eram afiliados no Batalhão Azov e também nem todos os russos odeiam os ucranianos. Diria que muito poucos russos odeiam os ucranianos. Esta, caros/as leitores/as, é a história que quero vender, quero vender amor. O ódio não faz parte do meu vocabulário.
Amor sim, ódio não
Portanto, não vou escrever sobre as atrocidades cometidas contra os ucranianos russófonos nos últimos oito anos, não vou escrever sobre o ódio demonstrado às crianças russófonas, das crianças russófonas que perderam suas vidas porque… falaram russo. Para alguns, uma criança ucraniana vale mais que uma criança russófona de Donbass, nunca se vai ver fotografias deles sendo exibidas como troféus, por aqueles que acham bem usar atletas russos com deficiências como peões políticos.
Vou encontrar histórias de amor como um meio de começar, já, um processo de paz e reconciliação pelo menos nos meus escritos e uma dessas histórias vou contar-vos hoje.
Região russa de Tula envia ajuda humanitária à Ucrânia
Os moradores da região de Tula reuniram ajuda humanitária e a enviaram com amor aos moradores de Kharkov (Kharkiv em ucraniano). O volume total é de 120 toneladas e foi entregue na fronteira na região de Belgorod. A remessa inclui alimentos, água potável em garrafas, medicamentos, roupas e roupas de cama. Foi entregue pelas Forças Armadas russas aos moradores da área de Kharkov.
As Forças Armadas Russas montaram um quartel-general trabalhando 24 horas dia, ligando profissionais e voluntárias de todas as entidades públicas, autoridades e entidades privadas para coordenar ajuda humanitária à Ucrânia. A Sede é chamada de Sede da Coordenação Interpartamental que fornece ajuda humanitária à população da Ucrânia nas áreas controladas pelas forças russas e aos moradores das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk. A sede também fornece ajuda na evacuação de cidadãos ucranianos e estrangeiros e todos são tratados com o mesmo respeito.
Concluindo, ninguém gosta de ser invadido. Ninguém gosta de ser bombardeado por oito anos também. Esta hoje é uma história de amor, não é uma história de ódio. Vamos todos procurar mais histórias de amor e não abanar as chamas do ódio apresentando apenas um lado, censurando o outro e relatando ações fora de contexto. Vamos todos contribuir para que as crianças ucranianas e as russas brinquem e se divirtam juntas, não olhando uma para outra no cano de uma arma nas décadas próximas.
Vamos fazer a paz e reconciliação as nossas metas e, aqueles de nós que não são russos ou ucranianos, tentar construir pontes em vez de se envolver em crimes de ódio, e isso inclui a classe política e os meios de comunicação social.
Esperando que este conflito acabe o mais breve possível.
Amor sim, ódio não.
Timothy Bancroft-Hinchey é jornalista, editor do site em português do Jornal Pravda da Rússia e Media Partner da ONU Mulher.
Pode ser contatato no email: timothy.hinchey@gmail.com
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