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Aripuanã

História de um garimpeiro no sistema cooperativo em Aripuanã


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A vida de garimpeiro não é fácil, como todos devem imaginar. E o preconceito é muito grande. Nós não somos bandidos, queremos apenas trabalhar, sustentar nossas famílias, crescer na vida como qualquer outro trabalhador brasileiro. E as cooperativas minerais têm se tornado uma alternativa extremamente viável para mudar esse cenário vivido pelas famílias garimpeiras.

Além de trazer a atividade para a formalidade, pois evita a atuação clandestina, esse sistema, que é amparado pela Constituição Federal, beneficia trabalhadores de forma igualitária, já que se tornam cooperados e, ainda, têm um olhar diferenciado para o meio ambiente e à comunidade local.

Afirmo isso com propriedade porque já vivenciei todas as dificuldades e consequências de trabalhar em um garimpo ilegal. Hoje, presido a Cooperativa de Mineradores e Garimpeiros da Região de Aripuanã (Coopemiga) e, junto com os mais de 1.700 cooperados, conheci de perto o quanto é sofrido viver na ilegalidade.

Vivíamos com medo de tudo. Medo de atearem fogo nos maquinários que comprávamos com o maior esforço, que tínhamos alugado ou emprestado. Medo de perder nossa única fonte de renda. Medo de ser preso. Medo de ser morto.

E a Coopemiga foi pensada justamente depois de um período cheio de conflitos, após a realização de uma operação policial no garimpo que resultou na morte de um amigo garimpeiro. Na dor, juntos, criamos forças. Em 2019, reunimos todos os garimpeiros e, com o apoio dos moradores de Aripuanã e do comércio local, conseguimos legalizar a área do garimpo da Serra e conquistamos o direito de mineralizar de forma lícita.

Hoje, somos exemplo de cooperativismo pelo modelo de trabalho e pela organização. Temos famílias que moram no local, e a vila que já está se transformando em um bairro dos garimpeiros. Conseguimos, por meio da cooperativa, dar vida digna e trabalho aos cooperados, pois hoje são donos do próprio negócio.

E a vida do garimpeiro é bem diferente quando se está inserido nesse sistema. O ouro é legalizado, assim como a sua venda. Emitimos notas fiscais, pagamos impostos, depositamos nosso dinheiro no banco e assim podemos comprar casa, carro e equipamentos para trabalhar e também contribuir para o desenvolvimento da economia regional.

Aos poucos, estamos construindo nossa história à custa de muita luta. Hoje, a nossa família garimpeira está em paz com os órgãos fiscalizadores, com a prefeitura da cidade, com a mineradora local e com a população. Espero que esse modelo também ocorra em outras regiões do país que estão na clandestinidade, porém, com menos dificuldade e menos burocracia, pois, na verdade, ninguém quer trabalhar nas condições árduas de um garimpo ilegal.

É claro que os desafios continuam. E são muitos. Ainda estamos nos organizando e precisamos de apoio e de políticas públicas para nos desenvolvermos e de forma ainda mais sustentável, pois as cooperativas minerais também têm esse papel de contribuir para a conscientização dos trabalhadores sobre a importância de preservar o meio ambiente.

Para concluir, reforço que o trabalho formalizado possibilita a garantia de direitos e melhorias nas condições de trabalho e de vida de mineradores e garimpeiros, gera renda para outros milhares de trabalhadores e, ainda, contribui para o crescimento econômico dos municípios.

*Antônio Vieira da Silva é garimpeiro e presidente da Cooperativa de Mineradores e Garimpeiros da Região de Aripuanã (Coopemiga)

 

 

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