Pará
Pacientes passam a noite em fila para receber atendimento no hospital Abelardo Santos, em Belém
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Pacientes que procuram atendimento no hospital Abelardo Santos fazem fila durante a madrugada para conseguir uma consulta médica. Muitos chegam às 19h do dia anterior, mesmo sem ter a certeza que serão atendidos.
“Eu cheguei às 19h de ontem (segunda-feira, 26) para pegar a ficha hoje (terça-feira, 27) e não consegui porque estava assim de gente ai. Então passamos o dia para pegar para amanhã (quarta-feira, 28). Já estamos perto, mas ela (funcionária do hospital) disse que quando der 6h, ela só vai dar (senha) para quem chegar ás 6h, quer dizer, nós não vamos pegar”, contou a dona de casa Marie Helena.
A revolta da dona de casa é constatada na porta do hospital do Abelardo Santos. Logo na entrada há um informativo que diz que filas formadas antes das 6h da amanhã não serão válidas.
“Eu me sinto humilhada, porque se estou aqui porque eu preciso. E nós todos precisamos. Se nós não precisássemos, nós não estaríamos aqui”, completou Marie Helena.
No local onde as pessoas se posicionam para esperar a liberação das senhas não é apropriado. Algumas trouxeram bancos, cadeiras, outras ficam à noite em pé e aglomeradas.
A dona de casa Marlize Silva chegou às 19h para tentar conseguir consulta para ela e para o marido, que é prioridade e também precisa amanhecer na fila em frente ao hospital.
“Água, bolacha e café. Eu, para geral, e meu marido, para prioridade, para sermos atendidos né. Está difícil. Chegou uma mulher aqui passando mal e não pode ficar porque só atende criança e gestante. Ai levaram a senhora de volta”, contou Marlize.
Assim como Marlize, a dona de cassa Cristina de Souza entrou na fila em frente o hospital Abelardo Santos para conseguir marcar uma consulta para o marido que está com problema respiratório e é do grupo de risco para a Covid-19.
“Ele não dão nem a senha para amanhã. As pessoas estão morrendo, não pode fazer aglomeração, mas eles não organizam nada. Eu vim por causa do meu esposo, ele tem problema no coração e não pode ficar aqui. Eu passo a noite normal aqui, mas também estou em risco, sou diabética, mas é o jeito”, lamentou Cristina.
Para tentar organizar a fila formada, a cabeleireira Suziele Garcia anotou o nome das pessoas por ordem de chegada. Segundo ela, a fila começou a se formar ainda na manhã de terça-feira.
“A manhã de quarta-feira (28) já encerrou com a lista que a gente fez. Então vão ter que esperar a da quinta-feira (29). Vão ter que dormir na mesma situação. Passamos o dia todinho. Fomos almoçar, voltamos, e agora estamos aqui novamente. Vamos dormir para amanhã”, disse.
Um paciente do Abelardo Santos gravou um vídeo mostrando a dificuldade que é para agendar consulta no hospital. Ele chegou bem cedo, mas encontrou uma enorme fila para o lado de fora, impossibilitando a marcação de uma consulta com um ortopedista.
“Eu faltei serviço e vou ter que faltar de novo porque eu preciso. Eu tenho problema de coluna. Agora olha como está o povo ai”, contou Carlos Barbosa.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informou que o hospital Abelardo Santos disponibiliza mensalmente 800 vagas para atendimento de clínica médica na unidade, sendo 500 fichas para primeira demanda e 300 para retorno.
Ainda segundo a Sespa, o agendamento é feito somente nos últimos cinco dias de cada mês, voltado apenas para moradores dos distritos de Icoaraci e Outeiro e região das ilhas.
G1