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Um futuro para a Amazônia – Por Mario Eugenio Saturno


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Para os cientistas Ismael Nobre e Carlos Nobre, a Terceira Via Amazônica, ou Amazônia 4.0, deve surgir de olho na crise climática e a ameaça global à biodiversidade, com soluções inovadoras e que utilize o conhecimento propiciado pela Ciência, pela Tecnologia e pela Inovação e planejamento estratégico para o florescimento de uma bioeconomia baseada na ideia de uma floresta em pé, com os rios fluindo, valorização da biodiversidade e do trabalho sustentável das comunidades locais.
 
Vê-se, por exemplo, as fragrâncias para perfumes, como o óleo de pau rosa, cotado a 200 dólares o litro, usado como componente de perfumes clássicos como o Chanel Nº 5. O óleo de amêndoa de castanha do Pará, usado em cosméticos, é vendido a 30 dólares o litro, ou em cápsulas como suplemento alimentar, chegando a 150 dólares o litro.
 
A ucuúba, que era usada para fazer cabo de vassoura, também tem enorme potencial na indústria de cosméticos. Hoje, a renda anual gerada por uma árvore de ucuúba em pé é três vezes maior do que a gerada com o corte da mesma árvore.
 
O caso de maior sucesso que demonstra o projeto é o açaí, que pode ser manejado tanto em pequena como em larga escala. Até 1995, era consumido basicamente na região Norte, mas nos últimos 20 anos conquistou o resto do país e os mercados globais. Presente em quase todos os municípios da região, o lucro líquido da produção de açaí varia de 200 dólares por hectare por ano em sistemas não manejados até 1.500 dólares em sistemas agroflorestais manejados no Pará.
 
A produção de polpa de açaí já ultrapassa 250 mil toneladas por ano, beneficia mais de 300 mil produtores e agrega pelo menos 1 bilhão de dólares à economia amazônica a cada ano. Estados Unidos, Europa e Japão são grandes consumidores. E um pesquisa da Embrapa mostrou que, a partir do pigmento antocianina presente no açaí, é possível produzir um evidenciador de placa bacteriana dental, um grande benefício para a saúde bucal a baixo custo.
 
Já o camu-camu possui vitamina C na proporção de 1.888mg/100g, enquanto a laranja contém apenas 53mg/100g. E o buriti tem duas vezes mais vitamina A do que a cenoura. As plantas da Amazônia contêm segredos bioquímicos que podem resultar em produtos de alto valor. Veja o que sabemos, que as formigas cortadeiras utilizam algumas folhas como manta para cultivo de fungos e evitam deliberadamente outras folhas ricas em fungicidas naturais. Nas folhas rejeitadas pode estar um novo fungicida natural.
 
Foi descoberta recentemente em um lago da Amazônia, uma enzima, chamada Beta glicosidase amazônica, que quando utilizada na fabricação de etanol de cana de açúcar, resulta em aumento de produtividade de até 50%.
 
Na flora brasileira como um todo, mais de 240 espécies de plantas são utilizadas como base de produtos cosméticos e farmacêuticos e 36 delas como base de medicamentos fitoterápicos. Na flora amazônica, existem mais de 450 espécies já conhecidas e utilizadas tradicionalmente, mas quantas delas podem se transformar em ativos econômicos? Quando um criminoso incendeia a floresta, espécies locais são destruídas, talvez a cura de muitos tipos de câncer. Que queremos?
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Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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