Esporte
Coluna – Flamengo, Palmeiras e os demais
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O futebol brasileiro tem 12 grandes clubes: os quatro de São Paulo (Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo), os quatro do Rio de Janeiro (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco), os dois de Minas Gerais (Atlético e Cruzeiro) e os dois do Rio Grande do Sul (Grêmio e Internacional). Ao menos foi como a gente aprendeu. Mas daqui a pouco não será mais assim.
E quem diz isso é o consultor César Grafietti, um dos principais estudiosos do futebol brasileiro e autor das últimas análises financeiras sobre nossos times que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro. Recentemente ele publicou um estudo com 340 páginas, em que confirma a “espanholização” do nosso futebol, mas não por conta das cotas de TV, mas sim porque alguns clubes perceberam, antes dos demais, que uma boa gestão seria a melhor saída. Ele deu uma entrevista ao programa “No Mundo da Bola”, da TV Brasil, e deixou bem claro que, no futuro, a rivalidade regional, por tradição, ainda vai existir, mas a que vai prevalecer será a nacional, por competição.
E eu explico. De acordo com o estudo, Flamengo e Palmeiras estão alguns patamares acima dos demais. O Palmeiras pela injeção de dinheiro de um dirigente e pela gestão de um estádio com apoio de um patrocinador forte; o Flamengo pela mudança de filosofia na gestão, com o apoio de sua grande torcida. Comparados com clubes europeus, o Palmeiras seria o PSG, com um dono; o Flamengo, um Real Madrid, com um grupo mais sustentável.
Abaixo deles viriam os clubes paulistas, mineiros e gaúchos. Reparem, nenhum carioca. E por quê? Ele mesmo explica – as dívidas do Botafogo afetam qualquer tentativa de administração; uma folha de pagamento elevada afeta as receitas do Fluminense, que ainda consegue alguns recursos vendendo atletas da base; e as dívidas do Vasco e a falta de resultados o afastaram do principal bloco dos clubes nacionais.
Isso afeta o Flamengo? Sim e não. Sim, porque enfraquece a rivalidade local, que em breve ficará restrita apenas à tradição. E não, porque o calendário do futebol brasileiro caminha para valorizar, cada vez mais, as competições nacionais. E esse raciocínio pode ser ampliado para os demais estados.
Mas você vai dizer: o futebol brasileiro não se restringe a esses 12, e é verdade. O estudo de Grafietti também aponta que Bahia, Ceará, Fortaleza, Goiás, Avaí e Athletico-PR fazem boas administrações e merecem elogios. Mas dificilmente vão competir em nível nacional com clubes de alcance mais amplo, fazendo com que predominem, isso sim, em seus estados.
E aí está o segredo do negócio chamado futebol. Saber onde pode ir, no que pode investir e em que competição vale a pena lutar. Para Grafietti, a pressão do torcedor não pode mais obrigar o dirigente a contratar sem controle, nem conhecimento. Cada clube, incluindo aqueles 12 lá de cima, vai precisar definir as metas em cada competição e entender que não dá pra ser campeão em algumas. Como já acontece na Europa, que, queiramos ou não, deve ser o nosso referencial. Para se manterem vivos, os clubes vão precisar atravessar esse caminho, que ele chama de “longo e doloroso”, em especial para os torcedores mais apaixonados. Mas sem isso, a marca não será suficiente para mantê-los vivos.
O clube-empresa é a saída. E cada clube brasileiro terá um formato, ou com um dono único ou com acionistas, para os que têm torcidas maiores. O investidor local terá de aprender com o estrangeiro, que já conhece esse novo negócio. Por isso, o dinheiro vindo lá de fora, por quem já investe em futebol, também será muito bem-vindo.
E quanto ao que dissemos lá no começo, fica o recado, para você ir se acostumando – em pouco tempo, teremos apenas de cinco a seis grandes clubes, como na Inglaterra. Curiosamente, o país que inventou o futebol.