Agronegócios
Gerenciamento florestal: o futuro de um negócio em ascensão no Brasil – Por Luiz Fellipe Arcalá
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O plantio de florestas é uma realidade brasileira. O país possui cerca de 8 milhões de hectares de florestas plantadas e o eucalipto lidera o crescimento do setor, acompanhando os aumentos da produção brasileira de celulose. E é justamente o setor de celulose e papel que demanda o maior crescimento da área plantada, tanto própria como de produtores independentes.
Em seis anos (de 2010 a 2016), a área de plantio de eucalipto no Brasil aumentou 16%, enquanto a de pinus regrediu 12% no mesmo período, gerando déficit em relação à demanda e aumentos recentes de preços. O acréscimo de área plantada brasileira neste período corresponde a mais de 770 mil hectares de de eucalipto, o que representa toda a área plantada de Portugal e da África do Sul.
E são vários os motivos que levam o país a se destacar no cenário internacional. O Brasil possui vantagens competitivas significativas para a produção florestal e, portanto, imenso potencial para atração de capital de investidores financeiros nesse setor. Dentre os grandes produtores de commodities agrícolas, o país é, de longe, aquele com maior disponibilidade de áreas agricultáveis para expansão da produção. Dentre vários, fatores, a produtividade agro-florestal brasileira se beneficia da disponibilidade de água e alta incidência de luz solar território nacional.
Além disso, entre os países com maior tradição na produção agropecuária e florestal, o Brasil está entre os que oferece terras produtivas ao menor custo. Ele é líder mundial em produtividade florestal para produção em larga escala e o potencial da terra não para de crescer, graças à velocidade do crescimento do ativo biológico e ao menor prazo para monetização.
Para se ter uma ideia, a produtividade do eucalipto no Brasil é de 35 m³/ha/ano e do pinus é de 30 m³/ha/ano, enquanto em países como o Chile, não passam de 25 e 22 m³/ha/ano, respectivamente. Porém, mesmo com resultados de produtividade acima de outros países, encontramos no Brasil áreas florestas com variações de produtividade de mãos de 40%, para cima e para baixo, em relação à média. As diferenças de produtividade apontam para a existência de grandes oportunidades para a otimização tanto do custo-caixa como no capital empregado na atividade florestal no país.
Mas de nada adianta todo esse potencial, se não olharmos da “porteira para dentro” e não fizermos gerenciamento florestal.
Não se trata um desafio trivial, porém se o gerenciamento florestal é bem aplicado, maximiza os retornos para o investidor, que deve se beneficiar na venda desta produção com lucros.
A indústria tem sido lenta na adoção de tecnologias que podem mudar o patamar do valor do ativo florestal. E o grande desafio do gerenciamento está em aplicar o melhor pacote tecnológico para a área de interesse (otimização da produção), efetividade na gestão de custos (redução de custos), alinhamento da qualidade da produção à indústria e equilíbrio com o meio ambiente, visto que a produção interage com áreas de conservação e outros usos da terra.
A floresta do futuro produz mais, gerenciada de perto e com profissionalismo, custa menos, consome menos recursos naturais e fornece produtos e serviços de maior valor agregado. Ela alia benefícios em curto, médio e longo prazo em setores como Sustentabilidade (certificações; pegada de carbono/créditos de carbono; gestão da água; controle biológico de pragas e energias renováveis), Biotecnologia (introdução de OGMs com maior produtividade; introdução de novos traits como maior teor de lignina, resistência a pragas, doenças e estresse abiótico); Usos da madeira (manejo para uso múltiplo e manejo “energético” e extração de novos compostos para substituição de matérias-primas fósseis) e Gestão (silvicultura de precisão; ferramentas inteligentes de gestão; aplicações limitadas de big data e uso inteligência artificial e inteligência aumentada em diferentes níveis do processo).
Investir em gerenciamento florestal deveria ser a premissa das empresas, mas alguns sinais deixam ainda mais claro que é hora de se fazer esse investimento, como rentabilidade abaixo do esperado, ausência de gestores florestais na equipe, ausência de sistemas de gestão, ausência de plano de longo prazo com acordos comerciais estruturados, produtividade florestal abaixo do esperado.
O investimento pode parecer para muitos um preciosismo, mas feito de maneira profissional, tende a neutralizar as ineficiências no modelo de gestão do investidor. Os resultados de redução de custos operacionais e a melhoria da produtividade se inclinam a ser maiores que o investimento realizado no gerenciamento florestal profissional. Certamente a profissionalização traz ganhos para todo o projeto.
Fases do Gerenciamento
O gerenciamento florestal é estruturado para garantir que o planejamento de longo prazo seja adequadamente posto em prática, portanto, é necessário o desenvolvimento do PLP (Plano de Longo Prazo). Nesta etapa, é necessário lançar mão de diversas ferramentas de otimização espacial, atreladas às demandas anuais de corte e comercialização, buscando o máximo de retorno para o investidor.
Geralmente o PLP é seguido de uma modelagem financeira que visa constituir o plano base de resultados. A partir daí é necessário o desdobramento do PLP em um Plano Orçamentário anual, que não é fácil, pois é necessário implementar redução de custos e melhoria da produtividade. Tendo o plano orçamentário, partimos para o plano operacional e depois para o controle operacional. A capacidade do gestor florestal de analisar, criticar a gerar oportunidades de planos de ação de melhoria é que determina o sucesso do modelo.
Ou seja, para se ter excelência no plantio de floresta é necessário um gerenciamento com estratégia, gestão de processos, sistema de gestão e uso de inteligência aumentada. Só assim o Brasil seguirá na liderança na atividade e conseguirá aproveitar ao máximo e com maior rentabilidade suas vantagens competitivas.
Luiz Fellipe Arcalá – Diretor executivo da Innovatech Gestão. Formado em Engenharia Florestal UNESP e MBA em Gestão Empresarial pela FGV, possui experiência em gerenciamento de negócios, planejamento e inovação para o setor do agronegócio. Trabalha com inúmeras companhias levando novas formas de gerenciamento, com foco em resultados e amadurecimento de processos de produção.