Somente em 2019, queimadas e derrubadas de árvores já ocasionaram a destruição de 912 km² de vegetação da Floresta Amazônica. Dados da Polícia Federal apontam que apenas no Sul do Amazonas, cerca de 25 km² são desmatados por semana. Atos como estes impulsionam a exploração ilegal de madeira, vendida para países da América do Norte, Europa e Ásia, e que é considerada a principal causa de desmatamento no estado.
No início de agosto, um carregamento de madeira – que tinha como destino o Sul do Brasil – foi apreendido em uma fiscalização no Porto de Manaus. Após ser extraída no Sul do Amazonas, a carga recebia uma documentação falsificada e era liberada para vários pontos do mundo por funcionários do Instituto Pesquisa Ambiental do Amazonas e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O esquema foi identificado durante a operação “Arquimedes”, iniciada em 2017, logo após a apreensão de 470 contêineres carregados de madeira irregular. O montante de toras encontrado era suficiente para cobrir cerca de dois mil quilômetros, que equivalem à distância entre Brasília (DF) e Belém (PA).
912 km² da Floresta Amazônica foram desmatados em 2019, diz Polícia Federal — Foto: Reprodução/Rede Amazônica
Em dois anos de operação, R$ 50 milhões de empresas exportadoras de madeira foram bloqueados. Além disso, 30 pessoas – entre empresários, madeireiros e agentes públicos de fiscalização – foram presas, incluindo o ex-presidente do Ibama no Amazonas, José Leland Barroso. Todavia, todos respondem em liberdade atualmente.
Segundo o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, a operação atua em duas frentes. “Nós conseguimos atacar em duas vertentes. A vertente da causa que é a corrupção, que são planos de manejo fraudados, e de outro lado nós conseguimos também atingir a consequência disso”, disse.
Avanço tecnológico
A Polícia Federal utiliza um satélite que realiza o monitoramento online do desmatamento. Com ele, as equipes acompanham 60% do território no Sul do Amazonas, com cem mil quilômetros quadrados, considerado o ponto mais crítico.
A média de desmatamento na região é de 25 km² por semana. Em julho, o índice chegou a 15 km². Já em maio deste ano, houve um pico de 40 km².
“Nós precisamos de uma tecnologia que nos permita agir com mais celeridade e alcançar o criminoso no tempo da ocorrência do delito. Então, nós saímos de uma situação de reação para também de prevenção”, comentou Saraiva.
Para o procurador da república, Leonardo Galiano, a prática do desmatamento e comércio ilegal de madeira possui beneficiados e prejudicados.
“Existem tantas pessoas prejudicadas, quanto pessoas beneficiadas com essa atividade sistêmica criminosa. Os beneficiários, claro, são facilmente identificados e evidentemente punidos, seja com prisões imediatas, seja com as ações penais e ações civis. O grande prejudicado com essa atividade, infelizmente é a sociedade brasileira. Porque a floresta amazônica não é um bem a ser apropriado, mas sim um bem a ser devidamente explorado, a ser devidamente gerido pelo estado brasileiro com o intuito de promover o progresso”, avaliou.
*com informações de Alexandre Hisayasu, do Grupo Rede Amazônica.