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Mitos sobre entorse de tornozelo


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A torção de tornozelo é uma das lesões mais comuns nos atletas e que levam a um elevado número de atendimentos durante provas e treinos. Atendo frequentemente atletas que tiveram torções por pisar em gel largado na prova, tropeços em copos, pisadas em buracos, esbarroes e pisoes gerando desequilíbrios e consequentemente as “viradas de pé”.

Por isso resolvi tirar as dúvidas e esclarecer o que é mito e o que é realidade quando se trata de um tornozelo torcido. Se você entender algumas coisas simples sobre entorse de tornozelo, poderá tomar as melhores decisões e cuidar do tornozelo para que possa voltar a correr o mais rápido possível!

MITO 1: raios-X – tem que fazer?
Toda vez que sofremos uma entorse de tornozelo em uma corrida ou trilha por exemplo, queremos saber o que está errado. Ao procurar um Pronto socorro na maioria das vezes, é realizado um RX para descartar fraturas. O primeiro problema, é que os raios X realmente só mostram as estruturas ósseas, ou seja, não mostram muito bem tendões, ligamentos ou outros tecidos moles, estruturas que geralmente são lesionadas durante as torções.

Na verdade, há um conjunto completo de critérios usados com frequência por nós médicos para determinar se vale a pena fazer um raios-x quando alguém torce o tornozelo. Essas regras são conhecidas como “critérios de Ottawa”. Eles foram desenvolvidos no Canadá para reduzir os custos de assistência médica quando o Canadian Health System percebeu que milhares de pacientes todos os dias estavam aparecendo nas salas de emergência e recebendo radiografias desnecessárias de seus tornozelos.

As regras do tornozelo de Ottawa dizem basicamente que o médico precisa palpar quatro pontos diferentes no seu pé e tornozelo, e se não doer qualquer um desses quatro pontos, você provavelmente não precisa de radiografia. Agora, este conjunto de diretrizes basicamente excluirá todos os tipos mais comuns de fraturas que ocorrem quando você gira o tornozelo.

DICA: Somente após uma avaliação da gravidade da torção é que tomamos a decisão de qual exame devemos pedir.

MITO 2: Se você pode andar, não está quebrado
Outro mito é que se você pode andar no seu pé ou tornozelo, ele não pode estar quebrado. Ouço muitas pessoas falarem isso: mas eu estou conseguindo andar como pode ter uma fratura? De fato, algumas das fraturas que vejo são difíceis de diagnosticar (fraturas ocultas ou incompletas) mas também já recebi casos que foram tão significativas que tiveram que ser levadas imediatamente à cirurgia (detalhe: paciente chegou andando na consulta).

Nossos corpos são verdadeiras máquinas e quando uma parte se quebra, como um osso no tornozelo as endorfinas naturais podem atenuar a dor principalmente durante uma prova ou atividade esportiva. Os músculos e tendões ao redor da fratura podem se imobilizar com firmeza suficiente para sustentar o osso quebrado, tornando-o estável o suficiente para que você possa andar.

Então, se você acha que pode ter quebrado o tornozelo, obviamente você não deveria ignorar e continuar andando ou correndo. Você não precisa ser um médico para entender que, se você andar sobre um osso quebrado, poderá piorar a fratura ou desviar os fragmentos.

DICA: O ideal é poupar-se (gelo, elevação, imobilização, descanso) sempre e ter certeza da gravidade antes de voltar ao esporte.

MITO 3 – Mobilidade precoce?
Um método de tratamento de entorse de tornozelo que tem sido perpetuado por décadas é que você deve mover o tornozelo imediatamente depois de torcer. Acredite ou não, apesar de mito, há alguma base científica e razão para pensar que esse “tratamento de mobilização precoce” é uma boa ideia.

Muitos anos atrás, houve um estudo1 que relatou que, quando os atletas tiveram entorse grave no tornozelo e iniciaram um protocolo de movimento precoce para soltar o tornozelo, reduziam o inchaço e ajudava remover o fluido inflamatório e que poderiam retornar aos mesmos níveis de atividade dentro de quatro dias.

O problema é que não podemos comparar os tipos diferentes de lesões, para usar esse protocolo, pois não são todas que se encaixam nesse tratamento ativo, além disso, algumas pessoas evoluem com dor crônica no tornozelo e instabilidade quando mal imobilizados ou tratados.

Uma maneira simples pra entender: imagine que você cortou seu braço. Faz algum sentido abrir repetidamente o corte para cicatrizar? Nossas células precisam de orientação para se reorganizar e cicatrizar. Isso acontece com os ligamentos.

DICA: se seu objetivo é garantir que você esteja correndo sem dor e sem problemas daqui a alguns anos, você pode ser mais cauteloso quando se lesionar e se necessário ficar imobilizado por um curto período garantindo o ganho de mobilidade assim que os tecidos cicatrizarem.

MITO 4: tentar superar a dor
Embora a palavra chave para um atleta seja: SUPERAÇÃO nos casos de torção onde é verificado, dor, edema e vermelhidão, vale a pena não forçar a natureza pois a lesão pode ser agravada. Qualquer um desses sinais indicam inflamação que muitas vezes está associado à lesão principalmente se vier acompanhado de equimose (roxo).

O ponto chave é que a lesão inicial da entorse do tornozelo pode ser seguida por uma liberação grande endorfinas que podem diminuir consideravelmente a dor e fazer você pensar que está tudo bem em continuar. Mas isso pode colocá-lo em risco de mais problemas pois o corpo irá recrutar mais células de defesa e fazer o tornozelo inchar cada vez mais. Se acontecer de você ter uma fratura sutil do tornozelo ou lesão de partes moles, e continuar se movendo, pode piorar a lesão.

DICA: se torcer o pé e qualquer um desses sinais aparecer: dor, calor, edema e rubor (vermelho ou roxo) melhor não insistir e respeitar os sinais do seu corpo.

MITO 5: eu já torço meu pé cronicamente
Alguns atletas desenvolvem dor crônica e instabilidade (falta de firmeza), esses problemas são, na maioria das vezes, ainda tratáveis. Você deve reabilitar completamente e reconstruir a conexão neuromuscular ou você vai torcer novamente e eventualmente agravar a lesão ou durante as quedas quebrar mais ossos. Portanto não considere sua falta de estabilidade uma coisa “normal

Vinte por cento dos pacientes que torcem os tornozelos desenvolverá uma instabilidade crônica que torna o tornozelo lesionado mais suscetível a entorses recorrentes podendo interromper seu treinamento ou prova a qualquer momento.

Se você continuar a torcer o tornozelo repetidamente, aparentemente toda vez que você sair para uma corrida em trilha, isso não será sustentável e pode inclusive sobrecarregar as outras articulações.

DICA: a boa notícia é que a maioria dos corredores pode reabilitar totalmente o tornozelo, mesmo que cometam alguns erros no tratamento após a entorse inicial do tornozelo. Então, só porque você torceu o tornozelo há um ano, dois anos, não quer dizer que não possa melhorá-lo hoje. Você só precisa entender o processo de reabilitação para poder restaurar a estabilidade natural do tornozelo.

Atenção: Você não precisa de cirurgia na maioria dos casos para reabilitar seu tornozelo. Os casos que opero são os que tem a lesão anatômica, ou seja, o ligamento se rompeu e não cicatrizou além disso e o paciente, mesmo com reabilitação, permanece com queixa de instabilidade funcional (ou seja não tem firmeza no pé).

Referência: 
1- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1773997

Ana Paula Simões é Professora Instrutora da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Mestre em Medicina, Ortopedia e Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte; e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. www.anapaulasimoes.com.br

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