Religião
Cuidado com o seu ideal
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Na nossa imaginação do ideal construímos uma projeção que nos coloca acima do que somos e, relativamente – em se tratando de ego , muito acima dos que os nossos semelhantes são, pois, no ideal, nós focamos no que há de ruim nos outros e no que há de bom em nós para produzirmos tal projeção.
Visto dessa forma, o ideal é, na verdade, uma espécie de prisão, haja vista que nos faz pensar que só teremos valor se formos aquele tipo de ser humano. A verdade é que, ao vivermos assim, estamos a nos enganar, pois, uma vez que nossas debilidades, sejam elas morais ou não, não são postas no script, o nosso ideal se consolida como o irreal, pois se constitui de forma incompleta.
Uma das afirmações que mais me fizeram pensar no livro “O Evangelho Maltrapilho” de Brennan Manning, diz: “O problema com nossos ideais é que, se vivermos de acordo com todos eles, nos tornamos pessoas com as quais é impossível de se conviver”. Essa afirmação foi escrita em um contexto de desmistificação do modo de proceder de um pecador alcançado pela Graça de Deus, fazendo ruir toda a falsa ideia de que temos autossuficiência para permanecermos em Cristo por nós mesmo, por nossos méritos.
A única virtude de um pecador salvo, segundo Brennan, é a renúncia de seus esforços pessoais em relação ao evangelho para viver uma vida de gratidão por ter sido salvo sem merecer e por causa do sacrifício de um Deus-Filho-Homem que decidiu se entregar por nós em resposta ao amor do Deus-pai.
Um contato real com a verdade da Graça de Deus faz com que nos desvistamos de nós mesmos para que sejamos cobertos pelo traje “maltrapilho” do evangelho, feito sob medida para os miseráveis. Ou seja, a graça nos dá um “choque” de realidade, um “banho” de verdade fazendo-nos enxergar o quanto somos cheios de mazelas.
Quem não vê imperfeição em si só verá imperfeições nos outros. E se este é “bom” demais, viverá só.