Por Letícia Marques — Quito, Equador
O Flamengo não venceu, mas também não perdeu o jogo-chave que tinha contra a LDU na noite desta terça-feira, pela Libertadores. Uma derrota deixaria o time em situação delicada e quatro pontos atrás dos equatorianos, mas o empate em 0 a 0 manteve o Rubro-Negro em boas condições na chave. Em entrevista coletiva após a partida, o técnico Filipe Luís revelou que Bruno Henrique precisou usar os cilindros de oxigênio e valorizou o ponto conquistado na altitude de 2.850m de Quito.
— Sempre é muito dificil jogar na altitude de Quito. Já tomei goleadas e já venci aqui, é complicado. Todo o contexto é diferente. A bola é mais rápida, os domínios escapam do pé. Às vezes você está acostumado a dar um passe à frente e ela (bola) vai embora. Optamos por um plano de passes mais curtos. Sabemos que o adversário também cansa, por mais que eles já estejam aclimatados aqui. Queriamos fazer com que corressem atrás da bola, para não terem o volume que fazem na casa deles. Assisti a muitos aos jogos e é impressionante o volume que eles têm em casa. Times que jogaram aqui com linha de cinco, eles te afundam para dentro da área, têm chute de fora, rebotes, o Arce é muito poderoso no jogo aéreo... Eles te empurram e você não consegue sair.
— Só o Bruno que pediu auxilio de oxigênio, mas todos sentem. Peguei os dados do ano passado e vi os que sofrem menos. A função defensiva mais importante tinha o Gerson, que era encarregado de pressionar e ajudar o Wesley. Ele fez de uma forma incrivel. Depois, com a bola no pé, ele não perde a bola. Ele foi o sacrificado pela parte física. O Evertton (Araújo) e o Erick (Pulgar) foram impressionantes. (Pulgar) Não errou quase nada, cobriu o campo, cortou muita bola perigosa. Ninguem é titular por acaso. Fiquei muito feliz pelo jogo dele, do Ayrton (Lucas). São jogadores que precisam se sentir confortáveis em campo.
Perguntado sobre Plata, que foi cortado do jogo após sentir dores no joelho esquerdo, Filipe Luís disse que o atacante equatoriano seria titular, não fosse pelo desfalque de última:
— Sim, ele seria titular. Falei para ele depois do jogo contra o Vasco. É um jogador muito importnte e especial para mim. Tem as qualidades e características que eu gosto. Sabe atacar espaço, associar com os companheiros. Infelizmente sentiu uma dorzinha diferente no joelho, que vamos ter que esperar os exames para ver o que aconteceu. Como treinador, fico triste de não utilizá-lo. Mas ele sentiu ainda mais, queria jogar na casa dele, no país dele. Sei que ele ficou muito chateado porque não conseguiu jogar. Mas ele sabe que é muito importnate para mim e para a equipe.
Plata ao lado do técnico Sebastian Beccacece, do Equador, durante LDU x Flamengo — Foto: Divulgação / Seleção equatoriana
Com o empate, o Flamengo foi a quatro pontos e continua em terceiro lugar no Grupo C, mas manteve a distância de um ponto para a LDU, agora com cinco. O Central Córdoba, da Argentina, também tem quatro e pode ir a sete se vencer o Deportivo Táchira, da Venezuela, na quinta-feira.
Veja outras respostas de Filipe Luís:
Surpresa da LDU
— Eles fizeram uma pequena mudança, jogaram com dois volantes. Um deles marcou o Arrascaeta praticamente o jogo todo. Mas isso nos dava a oportunidade de sair. O difícil era acelerar. O Gerson recebeu um passe que seria perfeito para o Everton, mas seria se fosse à nivel do mar. Nos optamos por um jogo de controle, para evitar a pressão do adversário. Mas pelo que eu vi do jogo do Tachira, a LDU dominou todo o segundo tempo e teve 15 cruzamentos para a área. Aqui, só conseguiu (ter volume) nos úlytimos 5 minutos. Estou feliz pelo esforço que meus jogadores fizeram porque é dificil jogar aqui.
Sabor do empate
— Queríamos ter vencido. Era importantíssima essa vitória. Nós nos colocamos nessa situação porque perdemos em casa para o Central Córdoba. Agora temos que entrar para vencer. Agora e sempre. Mas pelas circunstâncias de jogar aqui, não pelo desfalques porque eu tenho confiança plena nos jogadores que entraram hoje. Mas, sim, pela dificuldade de jogar com a LDU. Isso (empate) nos deixa vivos para continuar buscando a nossa classificação, que é o objetivo.
Estreia como técnico na altitude
— Cada entrevista que eu dou é quase a primeira vez em alguma coisa (risos). Treinador jovem é assim. Estamos aqui para ir evoluindo e melhorando. Eu jogar aqui e ser um dos que mais sofria com altitude me dá conselhos para dar aos jogadores. Mas é impossível. Cada um sente de uma forma, cada um joga de uma forma. Mas o plano de jogo, quando estou contra um adversário, eu olho para o esquema, para os espaços, e ali tento dar uma solução para eles se sentirem mais confortáveis dentro do campo. Depois, é escolha deles. De acelerar, de parar, de chutar de fora da área. A escolha é deles. Tentei falar o que eu achava, de quando eu jogava. Mas a maioria já jogou aqui. Não tem muito o que falar. Aqui se vem para sofrer, não tem como desfrutar do mesmo nível do ritmo do ar. Essa é a beleza da Libertadores na minha opinião. Acho uma experiência bonita poder jogar na altitude.
Filipe Luís cumprimenta Luiz Araújo após LDU x Flamengo — Foto: Gilvan de Souza / Flamengo
Ayrton Lucas
— Eu já o elogiei depois do jogo do Vasco. O Ayrton precisava de um jogo sólido, onde ele se sentisse dono da posição, onde controlasse os tempos de ataque e defesa. Contra o Vasco ele não errou passes, fez o time andar rápido e depois deu uma solidez defensiva para a equipe. E principalmente a bola aérea na defesa da área, que era uma coisa que a torcida pegava no pé, ele marcou o Vegetti praticamente todo o jogo e foi perfeito. Estava sem sequência, e é muito difícil um jogador desempenhar sem sequência. E hoje, com um jogador com confiança e sequência, vimos o Ayrton que veio para o Flamengo, que me deixou no banco, que é capaz de chegar na seleção brasileira. Pode muito mais. Vamos pouco a pouco dando um pouquinho de confiança para ele ir evoluindo.
Victor Hugo fora dos planos?
— Não é verdade. Ninguém nem mencionou o nome do Victor Hugo para mim. Falo com o Boto diariamente. Joguei com ele, gosto dele, é um meia que não perde a bola. Foi titular do Flamengo em 2022 ou 2023, com o Sampaoli, e perdeu espaço em 2024 e optou por sair. A montagem do elenco eu dou opinião, mas não é minha. Se no dia de amanhã o Boto quiser trazer o Haaland, ele pode trazer sem falar comigo. Podem me escutar, mas a montagem de elenco é sempre da diretoria. No caso do Victor Hugo, não é verdade (que está fora dos planos). Claro que virão reforços, jogadores que virão para ajudar, outros que não estão tendo espaço vão sair, esse é o ciclo do futebol. O importante é que temos um elenco bem compensado em todas as posições.
Jogo com LDU no Maracanã
— A LDU está muito adaptada para jogar em casa, mas também sabe jogar fora. Imagino que vai ser um time que vai seguir tentando pressionar, fazer seu jogo que é muito vertical, com muitas mudanças de frente e cruzamentos na área. Imagino que vão tentar aproveitar nossas perdas de bola para fazer contra-ataques rápidos. Na nossa casa, vamos ter que fazer uma partida sólida para poder vencer. Não é fácil. Nunca é uma equipe fácil de enfrentar.
Anulou lado direito da LDU
— A nível defensivo, foi um jogo muito sólido. Eu não queria vir ganhar um ponto, queria três. Mas defensivamente time foi bem porque a linha estava alta, deixávamos poucos espaços entre as linhas, não tinham tempo para girar no jogador rápido e perigoso que é (Bryan) Ramírez, o ponta. Fiquei encantado, parece muito bom, tem muitas assistências. Então adiantar as linhas, meus jogadores tiveram coragem para jogar alto e não demos espaços e o tempo para os adversários. Tiveram que fazer um jogo mais direto, e nossos zagueiros se sentiram cômodos. Quando baixamos um pouco, não estávamos bloqueando bem os passes por dentro, e nos últimos 10 minutos vimos o perigo que são. Com esse volume e os finalizadores que têm na área sempre é complicado defender.
Situação no Grupo C
— Não estamos numa posição cômoda nesse grupo, estamos atrás da LDU. É verdade que temos duas partidas em casa, mas enfrentamos o (Central) Córdoba fora de casa e não vai ser fácil. Mas acredito que com nossa equipe, nosso modelo, vamos classificar. O objetivo é passar (da fase de grupos), se é em primeiro, melhor. É um calendário muito apertado, com muitos jogos seguidos. É a quarta partida em 12 dias que tivemos. Jogadores fizeram um esforço grande e terão que continuar fazendo para passarmos para as oitavas, e depois tentar chegar o mais longe possível nessa competição que é tão bonita e tão especial.
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